Apresentada no dia 26 de março, a ButanVac é uma nova vacina contra Covid que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aguarda o protocolo de estudo clínico atualizado e mais dados do imunizante para aprovar os testes com humanos no Brasil, mas para ganhar tempo, o Butantan já começou sua produção. E o Jornal Hoje entrou na fábrica para conferir de perto tudo que está sendo feito.
Na receita do ingrediente farmacêutico ativo da ButanVac, o ovo vem primeiro. São 520 mil ovos por receita e uma pequena amostra, de 23 mil ovos, é testada. Um a um. Depois, eles são mantidos a uma temperatura entre 30 e 40 graus.
Das incubadoras, os ovos são levados para uma esteira que liga duas partes da fábrica: a parte não viral, onde uma máquina pega os 86 ovos de cada uma das bandejas e os leva para a parte viral, onde a produção da vacina começa efetivamente.
Em outra máquina, 86 agulhas perfuraram os ovos ao mesmo tempo e injetam neles um liquido com o vírus chamado Newcastle.
Este vírus infecta aves, mas não causa doenças em seres humanos e foi modificado geneticamente para produzir a proteína S, que permite a entrada do coronavírus nas células. Ele vai se reproduzir durante dois ou três dias.
Depois, a máquina corta o topo da casca, o líquido que está ali dentro é filtrado e purificado, o vírus passa por um processo de inativação para não ser capaz de provocar a doença, e então o IFA está pronto.
O processo é muito parecido com o da fabricação da vacina da gripe, que o Butantan já produz há 10 anos.
"Da chegada do ovo até a finalização do lote, a gente tem 11 dias de processo produtivo. Nós estamos no oitavo lote da ButanVac, temos mais alguns lotes para serem realizados. Mas a expectativa é que cada lote fique em torno de uma milhão de doses", afirma Douglas Gonçalves Macedo, gerente de produção do instituto.
Quase dois meses depois do anúncio da vacina, o Butantan ainda precisa cumprir algumas exigências da Anvisa. O diretor médico de pesquisa clínica do instituto, Ricardo Palacios, diz que a troca de experiência entre os técnicos do Butantan e da Anvisa tem aperfeiçoado a proposta de estudo da ButanVac.
Palacios não dá um prazo para apresentar todos os documentos, mas diz que o instituto está otimista com a nova vacina e que a produção de matéria-prima para quase 8 milhões de doses antes mesmo da autorização dos testes é uma prova da confiança deles na vacina.
"É realmente uma expectativa muito favorável que a gente tem, fundamentada em dados que foram feitos com animais de experimentação, que nos indicam que é realmente uma vacina muito promissora. Acho que uma das grandes perguntas em termos de pesquisa e das interrogantes é relacionada às variantes. Incorporamos isso no desenvolvimento clínico, que poderá avaliar a resposta da vacina nas variantes de tal forma que essa vacina consiga responder a todas as necessidades eventuais na população em termos de uma boa resposta imune", acredita.