Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente. Tem um ditado non-sense que diz isso. A ideia é, com bom humor e deboche, mostrar que existem assuntos que não podem ser confundidos. Estamos vivendo o drama de dias muito tristes no meio da pandemia, com o número de mortes aumentando diariamente no Brasil. Esta semana, tive contato com pessoal que trabalha na linha de frente, nas UTIs de covid. É enorme o temor com o risco da escassez de medicamentos fundamentais para manter pacientes entubados. Sedativos que fazem com que os pacientes fiquem dormindo enquanto estão respirando através de um tubo inserido em sua traquéia. Sem esses medicamentos, a dor é enorme, os pacientes nao conseguem dormir e aumenta em muito o risco de que seu estado piore e a pessoa morra. Essa situação já está ocorrendo em vários pontos do país. Já vimos reportagens sobre isso no Amazonas, ainda em fevereiro, e os relatos mais recentes desta semana, no Sul e até mesmo em Brasília. A pergunta é: por que a situação precisa chegar a este ponto?
Estamos todos de acordo que estão sendo registradas cepas do novo coronavírus muito mais agressivas que as primeiras, do ano passado? Sim, isso é fato desde o início do ano. Estamos chegando no final de março, as mortes estão aumentando e um relato do dia 21 de fevereiro, sobre falta de sedativos em Manaus ainda não fez tocar nenhum sinal de alarme entre as autoridades? Digo isso porque mais de um mês se passou entre o dia 21 de fevereiro e o dia 21 de março, quando novas reportagens sobre o assunto foram veiculadas. Por isso questiono: uma coisa é o vírus ter se desenvolvido para uma versão mais agressiva, termos notado isso e noticiado por todo o mundo; outra coisa, bem diferente, é saber disso e não termos nos preparado para uma explosão de casos em progressão geométrica.
Graças a Deus isso não aconteceu. Mas o que explica a ausência de cobranças sérias diante desses alertas que estão surgindo a cada dia, ao longo dessa pandemia? O caso do oxigênio de Manaus é exemplar. Esta semana, aqui em Rondônia, cinco instituições protocolaram uma ação civil pública na Justiça Federal pedindo que a União, o Estado de Rondônia e as empresas que fornecem oxigênio no estado apresentem em 24 horas um “plano coordenado que garanta o abastecimento de oxigênio medicinal”. É importante, de fato. Mas e quanto aos sedativos e outros medicamentos? Já sabemos que estão escasseando, já sabemos que tem muita gente sofrendo e morrendo por isso. Então já passou da hora de viabilizar o fornecimento adequado. Agora é hora de PREVER o que de pior poderá acontecer.
Temos que nos antecipar, nos colocar à frente do vírus, superdimensionar as medidas de enfrentamento, usando tecnologia, ciência, e nos atualizando. Por enquanto estamos assim: pensando ainda como se fosse o início do ano passado; esperando os problemas aparecerem na mídia, para começar a procurar culpados e, somente depois disso, partimos atrás de uma solução. Não dá.