Sul do Canutama, AM – Os assassinatos dos três trabalhadores rurais ocorrido em terras da União destinadas ao Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), nessa parte do Amazonas, ainda não apresentou por parte das autoridades regionais quaisquer indícios de que os mandantes sejam identificados e presos nos próximos anos.
Do lado amazonense, fazendeiros e madeireiros acusados dessa tragédia continuam não sendo importunados cujo Inquérito Policial no âmbito da Polícia Civil Estadual, praticamente, 'não foi mexido em desfavor, tanto dos pistoleiros, quanto de um suposto médico-fazendeiro e madeireiros rondonienses', se queixam familiares e amigos.
Do ponto da chacina, segundo investigadores independentes, 'é preciso a Polícia amazonense ouvir um Ex-Gerente da Unidade do INCRA, em Humaitá, quem teria autorizado as vítimas a adentrarem na área de conflito em nome do órgão para fazer levantamento topográfico em vez dos técnicos do Ordenamento Fundiário local'.
Com quase quatro anos das mortes, apenas o Ministério Público Federal, na opinião de arte dos assentados do Projeto de Assentamento São Francisco, 'fez o dever de casa, como deveria'. É do MPF do Amazonas a atribuição legal e da Polícia Federal apurar o caso encontrar os acusados, durante as investigações, às barras da Justiça', reafirmam.
Jairo Feitoza Pereira, Marinalva Silva de Souza e Flávio Lima de Souza (Foto:Arquivo Pessoal de Roseane Souza)
Os corpos de Flávio Souza, Marinavalva Souza e Jairo Pereira, lideravam a organização das famílias dentro das áreas da União, cuja posse era reclamada junto à Unidade do INCRA de Humaitá por fazendeiros, madeireiros e por um médico do Hospital de Base, em Rondônia. Igualmente, fora do caso estão donos de uma holding do agronegócio bovino e madeireiro com sede em Ariquemes, a 200 quilômetros da Capital rondoniense (Porto Velho).
Em dezenas de tentativas feitas à Gerência do órgão para que a vistoria técnica foi realizada pelos técnicos do órgão, os agricultores nunca foram atendidos pelo ex-gerente da unidade – nem pelo então chefe do Ordenamento Fundiário, à época. Por isso, 'eles precisam ser ouvidos pelo MPF, após investigação da PF do Amazonas, vez que pedido nesse sentido será feito aos procuradores do caso, em Manaus', adiantam as fontes.
De concreto, o caso teve apenas como fato inovador a decisão da então Juíza da Comarca de Canutama, município amazonense a mais de 670 quilômetros da Capital Manaus. A Magistrada, que substituíra o colega anterior do caso, declinou da competência da Justiça Estadual e encaminhou o processo à Justiça Federal no Estado.
Por ser questão agrária de âmbito do Judiciário Federal, apesar do INCRA de Humaitá, na pessoa do então Gerente da Unidade do órgão, de pré-nome Lucas, 'a autarquia não manifestou interesse em levar a situação ao menos a Polícia Federal, como determina a legislação vigente os casos de conflitos em terras da União', afirma ex-advogado da Associação de Produtores Rurais da Comunidade da Região do Igarapé do Arara (ASPROCRIA).
Segundo informações prestadas, extraoficialmente, por um ex-caseiro e segurança da fazenda envolvido na tomada de terras da União naquela parte do município de Canutama – que hoje mora em Goiânia, após as mortes de Flávio, Marinalva e Jairo -'tive que deixar o emprego temendo ameaças do dono da fazenda, porque não estava no dia dos crimes'.
O comentário deu origem a uma série de investigações de interesse dos agricultores que ainda vivem e moram no local em linhas com limites da fazenda de um profissional médico rondoniense. Parte delas aponta que 'as vítimas teriam sido autorizadas a entrar na terra com ordens expressas do então gerente e de outro servidor responsável pelo assentamento das famílias'. E já dentro da área de conflito agrário, 'pistoleiros saíram de dentro das moitas e, certamente, os renderam e os levaram para outro ponto da fazenda'.
– De lá, desapareceram, para sempre, desabafam sobreviventes locais.
Além do ex-caseiro que teria fugido para Goiânia – ele morou por tempos na Estrada Dos Periquitos, na Zona Leste de Porto Velho -, de acordo com advogados e jornalistas investigativos, 'o MPF e a PF precisam ouvir o chefe dos caseiros e seguranças da antiga fazenda Shalom e um colega alcunhado de 'Negão' responsável pela guarita das fundiárias da fazenda', ex-morador do quilômetro 17, na BR-319, que trabalhou na última eleição para o deputado rondoniense Lebrão – que, recentemente, destinou tratores para restaurar vicinais que levam a uma suposta propriedade do parlamentar rondoniense.
Antônio Mijoler Garcia Filho, um dos acusados da chacina dos três trabalhadores rurais (Flávio Lima de Souza, Marinalva Silva de Souza e Jairo Feitoza Pereira, as vítimas) foi preso pelo Delegado Paulo Kackiones, da Polícia Civil de Rondônia.
– Essas pessoas estavam no dia do triste acontecimento e sabem, certamente, os nomes dos acusados das mortes dos trabalhadores rurais e para onde foram caminhões que deixam a fazenda antes da chegada da Polícia de Humaitá, apontam moradores do Assentamento São Francisco.
Com fatos e informações atualizadas, investigações próprias dos envolvidos na disputa pela posse das terras pertencentes à União, o Jornalismo Investigativo do NEWSRONDÔNIA teve acesso ao processo, depoimentos de testemunhas ainda não ouvidas pelo Ministério Público Federal do Amazonas e mesmo pela Polícia Federal. Os documentos revelam inclusive, que o dono da Fazenda Shalom – hoje Fazenda Rondônia – teve a suposta matrícula das terras dadas pela Unidade de Humaitá canceladas por interesse da Justiça Federal, no caso.
fotos: amazoniareal