Óbvio que eu não sou prefeito de Porto Velho, a eterna capital de Roraima, nem de nenhum outro lugar do mundo. Mas se o diabo protegesse e os anjos dissessem amém e eu pudesse administrar este arremedo de cidade, juro que “ageitava” muita coisa nesta currutela inóspita. A primeira obra que eu faria como administrador “disto” aqui não seria beijar nem acariciar, já que não teria coragem de me abraçar com carniça. Eu mandava arrancar todo o asfalto das ruas, pois essa primeira ação acabaria de imediato com todos os buracos da cidade. O calor infernal diminuiria consideravelmente e as pessoas viveriam bem melhor sem o nosso mormaço característico. Água encanada não haveria mais. Mandava cavar buracos nas ruas só para abastecer as residências.
Cuidaria também da mobilidade urbana, que na capital sempre foi uma desgraça. Trocaria todos os carros movidos à combustão por carroças puxadas a burros e cavalos. O ar, sem o odor típico da queima de gasolina, álcool ou do diesel, ficaria bem mais respirável. Se tivesse pensado nisto antes, a greve dos caminhoneiros, por exemplo, não teria nos afetado em quase nada. Mandava destruir todos os elevados do antigo Trevo do Roque e de outras áreas da cidade que os matutos e as autoridades locais chamam de viadutos e mandava retirar todo e qualquer “bico de luz” que tivesse na ponte escura no rio Madeira. Nas escolas do município eu inovaria e só contrataria professor que tivesse uma religião para evitar que os nossos meninos fosses ateus. Antes de cada aula, os alunos marchariam e deveria ser cantado o hino nacional e também Céus de Rondônia.
Uma vez eleito prefeito da “capital das sentinelas avançadas”, colocaria logo um nome no Espaço Alternativo: Centro de Lazer Deputado Lúcio Mosquini (CELADELUMO) em homenagem a um dos criadores daquele recanto popular. O deputado, além de muito trabalhador, é um ícone para os habitantes da capital e será reeleito sempre que quiser, com toda a certeza. O lugar que os porto-velhenses usam para tirar “fotinhas” é um marco na arquitetura de toda a região Norte do país. Comigo na prefeitura, eu municipalizava imediatamente o “açouge” João Paulo Segundo. Construiria em cada bairro da cidade uma filial daquele procuradíssimo e exemplar centro de saúde. O porto rampeado do Cai N’Água seria desmontado e vendido ao ferro velho, já que não serve para nada mesmo. Subir e descer o barranco é mais romântico.
A Expovel, claro, voltaria a ser um dos espetáculos grandiosos de Porto Velho caso eu fosse uma autoridade por aqui. Desfiles pelas ruas da cidade não faltariam. O “assa xereca” deslumbraria as moçoilas casadoiras todo ano. Toneladas de bosta de animais encantariam a todos os orgulhosos moradores.
E nada de distribuir aos participantes sacolas para o lixo, pois não há espetáculo maior em Porto Velho do que ver o “lixaral” esparramado pelas ruas e avenidas depois de um “ato cultural”. Festas como Flor do Maracujá e Flor do Cacto, que homenageiam a exuberante flora local, seriam incentivadas. Parada para Jesus, Marcha do Orgulho Gay e Banda do Vai Quem Quer participariam todos os anos de um concurso para ver quem mais sujava a cidade. O prêmio seria o “Urubu de Ouro”, uma espécie de Oscar da sujeira. Porto Velho tem “geito”, sim! O que falta aqui é criatividade… E também o conhecimento da gramática.
*É Professor em Porto Velho.