A Usina Hidrelétrica de Itaipu, responsável por cerca de 9% da energia elétrica consumida no Brasil, está avaliando a construção de duas novas turbinas geradoras. A medida se deve à projeção de um aumento significativo no consumo de energia por parte do Paraguai, impulsionado, em grande parte, pelo avanço da inteligência artificial (IA) e pela mineração de criptomoedas no país vizinho. A informação foi divulgada por Enio Verri, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, em 21 de julho de 2025, em Foz do Iguaçu.
Ampliação “Inevitável”
Enio Verri afirmou que a expansão em 10% do número de turbinas da usina é “inevitável”. Atualmente, Itaipu possui 20 unidades geradoras, com espaço físico para a instalação de mais duas. No entanto, o diretor-geral ressaltou a necessidade de estudos técnicos, sociais e ambientais aprofundados, além de análises de viabilidade econômica e um acordo bilateral entre Brasil e Paraguai para que a ampliação seja concretizada.
O diretor explicou que o Paraguai se aproxima do cenário em que consumirá toda a energia a que tem direito de Itaipu. Isso significa que o país deixará de vender o excedente energético para o Brasil, o que ocorre desde 1985. O crescimento da economia paraguaia, a crescente presença de data centers (incluindo os de IA) e a intensiva atividade de mineração de criptomoedas são os principais fatores que explicam esse aumento da demanda.
Viabilidade e Desafios
Verri adiantou que a equipe de Itaipu já está avaliando a viabilidade da construção das novas unidades. A estrutura da barragem no Rio Paraná possui espaço físico para as duas unidades adicionais. Contudo, aumentar em 10% o número de turbinas não garante um aumento proporcional na capacidade de geração, dependendo dos avanços tecnológicos das novas máquinas.
O diretor-geral não associou a empreitada a um aumento do nível máximo do reservatório, que implicaria em alagar uma área maior. Ele destacou as complexidades sociais e ambientais envolvidas. “Uma coisa é você construir uma usina na ditadura militar [1964-1985]. Outra coisa é você construir uma usina agora”, comentou, ressaltando a necessidade de estudos estratégicos que considerem políticas ambientais, sociais e o impacto nas comunidades. O reservatório de Itaipu possui atualmente 1.350 km² e 170 km de extensão.
Perspectivas de Longo Prazo
Apesar da inevitabilidade da demanda, Enio Verri ponderou que o projeto ainda não é economicamente viável no curto prazo. Ele não forneceu um horizonte específico para a realização da expansão, mas indicou que o investimento deve ser financiado por empréstimos de longo prazo de instituições como o Banco Mundial ou o BNDES. A forma de pagamento da dívida poderia ser por meio de uma pequena taxa na tarifa de energia elétrica.
Qualquer projeto dessa magnitude em Itaipu exigirá um acordo conjunto entre os governos e parlamentos do Brasil e Paraguai, reforçando o caráter binacional da usina.
Cenário Binacional e Futuro Energético
A usina de Itaipu, um projeto binacional de 50 anos, tem sua gestão e consumo de energia divididos igualmente entre os dois países. O tratado estabelece que o excedente de energia de cada nação seja vendido a preço de custo ao sócio vizinho. Em 1985, o Brasil consumia 95% do fornecimento, mas em 2024, essa proporção caiu para 69%, com o Paraguai consumindo 31%.
Hugo Zárate, diretor-técnico paraguaio de Itaipu, citou projeções de que o Paraguai atingirá 50% do consumo da geração da hidrelétrica até 2035, impulsionado pelo crescimento expressivo de mais de 14% no consumo de energia no último ano, devido principalmente à mineração de criptomoedas e ao incentivo à instalação de data centers e servidores de IA.
Outra mudança importante ocorrerá em 2027, quando um acordo permitirá que cada país decida livremente o destino de seu excedente energético, podendo vendê-lo no mercado livre brasileiro ou até para terceiros países. Enio Verri, porém, relativizou o impacto do maior consumo paraguaio na matriz energética brasileira, destacando o avanço do Brasil em outras fontes renováveis, como a energia solar e eólica, especialmente no Nordeste, onde há excesso de oferta.