A imposição de tarifas comerciais de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos (EUA), anunciada pelo presidente Donald Trump em carta a Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira, 9 de julho de 2025, a ser válida a partir de 1º de agosto, pode significar um fechamento de mercado entre os dois países. Especialistas consultados pela Agência Brasil preveem sérios impactos em setores industriais estratégicos, com reflexos diretos em empregos e no preço de alimentos no mercado interno.
O professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), destaca a gravidade da situação: “Do total das exportações do Brasil, cerca de 15% vão para os Estados Unidos. Mas é importante destacar que é sobretudo produto manufaturado e semimanufaturado. Se isso se mantiver, nós vamos ter desemprego no Brasil, vamos ter uma diminuição da entrada de dólares no país e isso é muito grave”.
Produtos Afetados e Impactos Setoriais
Entre os produtos brasileiros mais exportados para os EUA, estão petróleo bruto, minério de ferro, aço, máquinas, aeronaves e produtos eletrônicos. Empresas como Embraer e Petrobras terão suas exportações impactadas. Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia no Ibmec-SP, explica que, embora possam buscar outros mercados, o norte-americano é o mais importante, e a mudança “trata-se de encarecer”.
No agronegócio, itens como açúcar, café, suco de laranja e carne são os principais na pauta de exportação para os EUA. Um dos efeitos colaterais esperados, a curto prazo, é a queda de preços no mercado interno, especialmente para commodities agrícolas que deixarão de ser exportadas. “Toda vez que ocorre algum tipo de fechamento, mesmo quando é auto embargo, por questões fitossanitárias, por exemplo, os preços caem, como é o caso do preço da carne. E é provável que isso aconteça, seja com carne, suco de laranja e café”, afirma Pires. Ele projeta que as elites econômicas afetadas pressionarão por uma rápida negociação para reverter as tarifas, visto que a manutenção das sanções por tempo prolongado traria dificuldades para retomar os mercados.
Postura “Chantagista” e Contexto Político
A decisão de Trump se soma a outras medidas protecionistas adotadas contra parceiros comerciais. Roberto Goulart considera a ação uma “chantagem”, mais intensa agora do que em seu mandato anterior. “O que o Donald Trump está fazendo é tentar bloquear o comércio Brasil e Estados Unidos, uma chantagem. Essas tarifas não são razoáveis”, avalia.
Para Alexandre Pires, a tarifa de 50% imposta ao Brasil é, em média, 25% maior do que as aplicadas a outros países, sugerindo uma dimensão política no episódio. Ele aponta que essa medida pode ter relação com o “efeito STF, efeito Brics, efeito regulação das redes sociais” e, por último, supostas razões comerciais.
A decisão contra o Brasil ocorre na mesma semana em que Trump e Lula trocaram críticas devido à realização da cúpula do Brics no Rio de Janeiro. Trump chegou a ameaçar os países do bloco com imposição de tarifas comerciais, o que agora se concretiza para o Brasil. Goulart finaliza: “Trump confunde multipolaridade e transformações na dinâmica da geopolítica global com antiamericanismo ou anti-EUA. No fundo, para ele, enfrentar o Brics é uma forma de enfrentar a China, o grande rival comercial”.