A Defesa Civil da Faixa de Gaza anunciou, nesta sexta-feira (27), a morte de 62 pessoas, que atribuiu a ataques aéreos ou disparos israelenses, incluindo dez que aguardavam ajuda humanitária.
Os números foram divulgados pelo porta-voz da organização, Mahmoud Bassal, à agência France Presse (AFP).
Os militares israelenses disseram à AFP que verificaram as declarações de Bassal, mas negaram que os seus militares tenham disparado contra pessoas que aguardavam ajuda no território.
A organização humanitária Ação Contra a Fome revelou que dois dos seus membros foram mortos ontem num ataque com um drone israelense contra uma área que não se encontrava sob aviso de evacuação.
Mohammed Hussein e Obada Abu Issa morreram “em consequência de um ataque de drone israelense, dentro de uma área densamente povoada de Gaza que não tinha recebido ordens de evacuação”, afirmou a ONG em comunicado.
“Ambos os trabalhadores estavam de folga no momento do ataque, aproveitando o seu tempo livre”, informou a organização, lamentando a morte dos dois, que eram colaboradores há cerca de um ano.
Ao todo, 72 pessoas foram mortas nesse mesmo dia em ataques israelenses, de acordo com o boletim diário do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.
O grupo islâmico palestino Hamas apelou hoje à ONU para que crie uma comissão internacional de investigação sobre mortes de civis pelas forças israelenses durante a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, depois de ter elevado para 570 o número de vítimas neste tipo de incidente no último mês.
“Pedimos à ONU que estabeleça uma comissão internacional para investigar esses crimes e punir os responsáveis”, afirmou o grupo palestino.
O Hamas registrou ainda quase 4 mil feridos, “sob o pretexto da distribuição de ajuda”, após o lançamento das operações da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), apoiada por Israel e pelos Estados Unidos.
Uma investigação do jornal israelense Haaretz mostrou que soldados israelenses, posicionados a poucas centenas de metros dos pontos de distribuição de alimentos da controversa fundação humanitária, receberam ordens dos seus comandantes para disparar sobre os palestinos em busca de alimentos, sem motivo aparente.
“É uma zona de matança”, disse, sob anonimato, um militar ao jornal, que tem sido altamente criticado pelo governo israelense pela sua cobertura e posicionamento em relação ao conflito na região.
“Onde eu estava destacado, entre uma e cinco pessoas eram mortas todos os dias. Eram tratadas como uma força hostil: sem medidas de controle de multidões, sem gás lacrimogêneo, apenas balas disparadas de tudo o que se possa imaginar – metralhadoras pesadas, lança-granadas, morteiros”, descreveu a investigação do Haaretz, que é citado pela agência EFE.
De acordo com os soldados e militares entrevistados, as forças israelenses disparam contra aqueles que chegavam antes do horário de funcionamento dos centros de ajuda — por vezes, dezenas de milhares que caminhavam quilômetros à noite — para evitar que se aproximassem prematuramente, e novamente após o encerramento para os dispersar.
Em diversas ocasiões, o Exército israelense reconheceu ter disparado “tiros de aviso” contra palestinos que teriam se desviado da rota estabelecida ou que acreditavam representar “uma ameaça”.
Por seu lado, a FHG nega esses incidentes, apesar da divulgação de vídeos captados nos locais e de relatos de palestinos feridos a buscar hospitais próximos, a maioria com ferimentos de balas.
“Abrimos fogo de manhã cedo se alguém tentar invadir a centenas de metros de distância e, às vezes, simplesmente atacamos à queima-roupa”, relatou outro soldado ao Haaretz, acrescentando que “não está certo que os comandantes estejam fazendo justiça pelas suas próprias mãos”, ao mesmo tempo em que descreve a Faixa de Gaza como “um universo paralelo”.
O Exército de Israel negou os relatos divulgados no Haaretz.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas em solo israelense, que fez cerca de 1.200 mortos, a maioria civis, e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 56 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e o deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas.