Pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e representantes de povos tradicionais da Amazônia participaram, entre 8 e 11 de dezembro, de um evento internacional voltado à resiliência climática, realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), no campus de Foz do Iguaçu (PR). A programação integrou ciência acadêmica, vivências comunitárias e parcerias estratégicas voltadas às ações pelo clima.
Um dos momentos mais marcantes foi o depoimento de Nucicleide da Paz Pinheiro, conhecida como Lulu, liderança quilombola da comunidade Forte Príncipe de Beira, no Vale do Guaporé, a cerca de 750 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia. Ao relatar a relação entre território, identidade e sobrevivência, Lulu destacou que a luta dos povos tradicionais está diretamente ligada ao direito sobre suas terras, afetadas de forma direta pelos impactos da emergência climática.
As falas integraram os debates do VI Workshop Internacional em Pesquisa e Resiliência Climática (RIPERC), do IV Seminário Internacional de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural Sustentável e do Simpósio Internacional do Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI) – Emergência Climática. O tema central foi “Ameaça global: impacto do clima nos ecossistemas locais, água e alimentos”.
Os eventos reuniram lideranças comunitárias e pesquisadores nacionais e internacionais para discutir os efeitos das mudanças climáticas no cotidiano e apresentar resultados de pesquisas recentes. Segundo Wilson Zonin, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural Sustentável da Unioeste, a iniciativa busca alinhar a produção científica aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, às metas da biodiversidade e às agendas globais do clima.

A programação contou com palestras, mesas-redondas e painéis, além da apresentação de 350 trabalhos acadêmicos, distribuídos em 14 grupos temáticos. O destaque foi o Grupo de Trabalho Emergência Climática, que reuniu 38 resumos sobre riscos, desastres naturais, eventos extremos e impactos socioambientais, com foco em justiça climática e estratégias de adaptação e mitigação.
A coordenadora da Rede Internacional de Pesquisa em Resiliência Climática (Riperc), Irene Carniatto, ressaltou a importância da integração entre ciência e territórios. Para ela, a produção de conhecimento precisa gerar resultados concretos para as comunidades, especialmente em um cenário de desafios climáticos crescentes.
Entre os painéis, esteve o debate sobre o Programa Itaipu Mais que Energia, com a participação de Carlos Carboni, diretor de coordenação da Itaipu, que apresentou projetos de sustentabilidade desenvolvidos no Paraná, Mato Grosso do Sul e Paraguai. Também foram discutidas experiências de ciência cidadã na Amazônia Brasileira, com professores da Unir, pesquisadores da Riperc e mediação de representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A iniciativa Amazônia+10 teve participação ativa nos debates, com relatos de experiências no Vale do Guaporé (RO) e no Vale do Jari (AP). Representantes das comunidades e pesquisadores destacaram a importância de reconhecer povos tradicionais como parceiros da ciência e sujeitos de sua própria história, e não apenas como objetos de estudo.
Voltada ao fortalecimento da pesquisa científica e do desenvolvimento tecnológico na região, a Amazônia+10 busca integrar conhecimento acadêmico e saberes locais. Coordenadores dos projetos em Rondônia e no Amapá ressaltaram que os dados produzidos pelas pesquisas contribuem para o empoderamento de comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas, auxiliando na defesa de direitos e na adaptação às mudanças climáticas.
Os eventos contaram com apoio de instituições como Fundação Araucária, Itaipu Binacional, Capes, CNPq e entidades regionais. As mesas e painéis estão disponíveis nos canais do NAPI Emergência Climática – Rede Pesquisa RIPERC e do PPGDRS Unioeste, no YouTube.









































