O mercado de trabalho vive uma profunda transformação, impulsionada pelas diferentes visões de cada geração. Enquanto a geração dos baby boomers, como Aurélio Santana (66 anos), construiu carreiras longas em uma única empresa, a geração Z, representada por Raphaella Abrahão (22), tem uma rotatividade altíssima. No Brasil, jovens de 18 a 24 anos ficam, em média, apenas 12 meses no emprego, uma prática conhecida como job hopping (salto de emprego).
Para os mais jovens, a estabilidade financeira e um emprego de longa duração não são mais os maiores objetivos. A prioridade está em ambientes de trabalho flexíveis, empresas com um propósito genuíno e oportunidades de crescimento acelerado. A busca por novas oportunidades (38%), a falta de reconhecimento (34%) e questões éticas (28%) são os principais motivos que levam os jovens a pedir demissão.
O choque entre gerações e as razões por trás da mudança
A diferença de mentalidade é reflexo de contextos econômicos e sociais distintos. Se os baby boomers cresceram com a promessa de estabilidade e aposentadoria garantida, a geração Z nasceu em um mundo de precarização, automação e menos garantias. O sociólogo Ricardo Nunes explica que o job hopping é uma resposta a um cenário em que a fidelidade à empresa não garante segurança.
Essa alta rotatividade gera desafios para as empresas, que enfrentam altos custos com recrutamento e treinamento, além da perda de produtividade. Para lidar com a situação, as companhias precisam ir além do salário e oferecer benefícios como horários flexíveis, apoio à saúde mental e oportunidades de desenvolvimento. A fidelidade do colaborador, hoje, está mais atrelada à coerência entre o discurso e a prática da empresa.
Convivência e novos modelos de trabalho
Com quatro gerações atuando no mercado, a convivência exige empatia e diálogo. Especialistas sugerem ações como mentorias reversas e projetos intergeracionais para criar pontes entre os diferentes perfis. Empresas como a Cosan e a Ford têm investido em planos de carreira transparentes e oportunidades de movimentação interna para reter talentos.
A chave para o sucesso é a adaptação das empresas e a valorização das competências de cada geração. A geração Z traz uma energia e uma busca por aprendizado que, se bem canalizadas, podem se tornar uma vantagem competitiva. A diversidade geracional, quando bem conduzida, pode gerar inovação, aprendizado mútuo e um ambiente de trabalho mais rico.