A economia brasileira continua aquecida, e o mercado de trabalho não sentiu os efeitos da política de juros altos. De acordo com economistas ouvidos pela Agência Brasil, o país segue criando empregos. Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta quinta-feira, 31 de julho de 2025, revelaram que a taxa de desocupação é a menor já registrada na série histórica, atingindo 5,8% no trimestre encerrado em junho.
Recordes e Surpresa no Mercado de Trabalho
O levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também indicou recordes no número de pessoas ocupadas (102,3 milhões) e de trabalhadores com carteira assinada (39 milhões). O rendimento médio mensal do trabalhador alcançou R$ 3.477. O economista Gilberto Braga, do Ibmec, considerou a taxa de desocupação abaixo de 6% como uma “bela surpresa”, já que o cenário de juros elevados, com a Selic em 15% ao ano, geralmente leva a uma contração econômica.
A pesquisa mostrou que a taxa de informalidade também atingiu seu menor nível desde o segundo trimestre de 2020, caindo para 37,8%. Gilberto Braga destaca que o resultado é positivo em todas as frentes, com o aumento da contratação formal e da remuneração média.
Fatores de Resistência e Perspectivas Futuras
A política de juros altos do Banco Central (BC) visa combater a inflação, que está acima da meta. Essa elevação dos juros encarece o crédito e desestimula investimentos, o que, em tese, deveria desacelerar a economia e reduzir o emprego. No entanto, o mercado de trabalho tem se mostrado resistente.
Sandro Sacchet, do Ipea, aponta dois fatores que explicam essa resiliência. O primeiro é a manutenção do valor de R$ 600 no programa Bolsa Família, que estimula o consumo das famílias e, consequentemente, sustenta o mercado de trabalho. O segundo é o crescimento do número de trabalhadores por conta própria, que atinge o maior patamar já apurado, com 25,7 milhões de pessoas. Essa mudança na estrutura do mercado de trabalho o torna mais dependente do consumo das famílias e menos do investimento de grandes empresas.
Apesar dos resultados positivos, os especialistas preveem uma desaceleração. Rodolpho Tobler, da FGV, espera que o ritmo de crescimento do emprego não se mantenha nos próximos seis meses e em 2026, à medida que a economia tende a “esfriar”. No entanto, ele não prevê um aumento expressivo do desemprego, mas sim uma desaceleração no ritmo de contratações. Sacchet, por sua vez, espera uma “pequena elevação” na taxa de desemprego, com uma nova queda no final do ano.