As taxas médias de juros no Brasil apresentaram estabilidade em junho de 2025. A média de todas as contratações de crédito — incluindo crédito livre e direcionado, para famílias e empresas — alcançou 31,5% ao ano no mês passado, com uma variação negativa de apenas 0,1 ponto percentual (p.p.). Apesar da estabilidade mensal, a taxa de juros permanece em um patamar elevado, registrando um aumento de 3,6 p.p. em 12 meses, conforme as Estatísticas Monetárias e de Crédito, divulgadas nesta segunda-feira, 28 de julho, pelo Banco Central (BC).
A alta dos juros bancários acompanha o ciclo de elevação da Taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, que está em 15% ao ano, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. O BC justifica o aumento da taxa pela necessidade de esfriar a demanda e conter a inflação, pois juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, levando a uma redução do consumo e à queda dos preços. O próximo encontro do Copom para definir a Selic ocorrerá nesta terça (29) e quarta-feira (30). O spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação dos recursos pelos bancos e as taxas médias aos clientes, também se manteve estável em 20,4, com um aumento de 1,8 p.p. em 12 meses.
Destaques do crédito livre e direcionado
Nas novas contratações de crédito livre para as famílias, a taxa média de juros atingiu 58,3% ao ano, com estabilidade no mês e alta de 5,7 p.p. em 12 meses. Entre os destaques de junho, o cheque especial subiu 2,5 p.p. no mês e 6,2 p.p. em 12 meses, chegando a 137,5% ao ano. O crédito pessoal não consignado também registrou alta de 4,2 p.p. no mês passado e 13,3 p.p. em 12 meses, alcançando 108,6% ao ano.
Por outro lado, o juro das operações de cartão de crédito rotativo caiu 7,9 p.p. em junho, mas subiu 12,7 p.p. em 12 meses, atingindo 441,4% ao ano, mantendo-se como uma das modalidades mais caras do mercado. O crédito rotativo, utilizado quando o consumidor paga menos que o valor integral da fatura, tem duração de 30 dias. Após esse período, as instituições financeiras parcelam a dívida, e no caso do cartão parcelado, os juros subiram 1,4 p.p. no mês, ficando estáveis em 12 meses, a 182,5% ao ano. Nas contratações para as empresas, a taxa média do crédito livre ficou em 24,3% ao ano, com leve alta de 0,1 p.p. no mês e aumento de 3,5 p.p. em 12 meses.
No crédito direcionado — que possui regras definidas pelo governo e é destinado a setores como habitacional, rural, infraestrutura e microcrédito —, a taxa para pessoas físicas ficou em 11,1% ao ano em junho, uma redução de 0,2 p.p. em relação ao mês anterior e alta de 1 p.p. em 12 meses. Para empresas, a taxa caiu 0,6 p.p. no mês e aumentou 1,7 p.p. em 12 meses, indo para 14,1% ao ano. Assim, a taxa média no crédito direcionado ficou em 11,8% ao ano, com redução de 0,2 p.p. no mês e alta de 1,2 p.p. em 12 meses.
Saldos das operações e endividamento das famílias
Em junho, as concessões de crédito totalizaram R$ 636,9 bilhões. Nas séries sazonalmente ajustadas, houve um recuo de 3,1% no mês, com redução de 7,5% nas operações com pessoas jurídicas e expansão de 1,4% com as famílias. Em 12 meses, as concessões nominais cresceram 13,9%, com altas de 17,7% nas operações com empresas e de 10,9% com pessoas físicas.
Com isso, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 6,685 trilhões, um crescimento de 0,5% em relação a maio. Esse desempenho foi impulsionado, basicamente, pelos incrementos de 0,6% no crédito para empresas e de 0,4% para famílias, que somaram R$ 2,540 trilhões e R$ 4,144 trilhões, respectivamente. No entanto, o BC aponta uma desaceleração no crescimento dos saldos: na comparação em 12 meses, o estoque de crédito total cresceu 10,7% no mês passado, ante alta de 11,8% em maio.
O crédito ampliado ao setor não financeiro — que inclui o crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da fonte — atingiu R$ 19,302 trilhões, com aumento de 0,9% no mês. Isso reflete, principalmente, os acréscimos de 2,9% nos títulos públicos de dívida e de 2,1% nos títulos de dívida securitizados. Em 12 meses, o crédito ampliado cresceu 10,6%, com avanços nos títulos públicos de dívida (12,2%), nos empréstimos do SFN (10,1%), nos títulos de dívida securitizados (25,6%) e nos títulos privados de dívida (16,3%).
A inadimplência — atrasos acima de 90 dias — manteve-se estável em 3,6% em junho, com pequenas oscilações. Nas operações para pessoas físicas, a taxa é de 4,3%, e para pessoas jurídicas, de 2,4%. O endividamento das famílias — relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses — ficou em 49% em maio, um aumento de 0,1 p.p. no mês e de 1,4 p.p. em 12 meses. Excluindo o financiamento imobiliário, o endividamento foi de 30,7% no quinto mês do ano. O comprometimento da renda — relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período — foi de 27,8% em maio, com aumento de 0,4 p.p. na passagem do mês e de 1,9% em 12 meses. Estes dois últimos indicadores são apresentados com defasagem, pois utilizam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE.