É no silêncio dos bastidores que se escondem os maiores escândalos financeiros da política. O pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) ao ministro Alexandre de Moraes para investigar movimentações financeiras atípicas no mercado cambial revela que o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil pode ter sido mais do que uma manobra diplomática. Pode ter sido também um excelente negócio — para poucos, e em condições suspeitas.
O foco é claro: entender se alguém lucrou ilegalmente com informações privilegiadas sobre a taxação de 50% nas exportações brasileiras para os Estados Unidos, anunciada por Trump e válida a partir de 1º de agosto. A medida, que já causaria abalos no mercado, teria sido antecipadamente conhecida por aliados, permitindo operações lucrativas no câmbio, como compras de dólar na véspera e vendas após a disparada.
Essa possibilidade insere o tarifaço em um contexto ainda mais grave: o da exploração financeira de uma crise diplomática. A AGU afirma que os indícios se somam a outros ilícitos já investigados no inquérito que envolve o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente e hoje licenciado do cargo. Eduardo, vale lembrar, está nos EUA desde março e foi citado por atuar junto ao governo norte-americano para pressionar ministros do Supremo e retaliar o governo brasileiro.
A cronologia dos fatos levanta dúvidas incômodas: o tarifaço foi articulado por razões comerciais ou como parte de uma retaliação política combinada com aliados internos? E se for verdade que houve ganhos com a oscilação cambial, estaríamos diante de insider trading com viés golpista — o que exigiria não apenas investigação, mas responsabilização exemplar.
O pedido da AGU foi protocolado no sábado (19), mesmo dia em que o STF impôs tornozeleira eletrônica a Eduardo Bolsonaro, após operação da PF e manifestação da PGR sobre risco de fuga. O ex-deputado deve retornar ao Brasil, pois sua licença parlamentar termina hoje. Volta ao país como figura central de uma crise institucional que mistura política, mercado e justiça.
Se confirmadas, as acusações revelarão que os ataques ao Brasil não foram apenas políticos, mas também financeiros, transformando a soberania nacional em ativo especulativo. E quem lucra com isso, quase sempre, são os mesmos de sempre.