O sistema de pagamentos instantâneos Pix está sendo monitorado pelas autoridades dos Estados Unidos desde, pelo menos, 2022. Naquele ano, o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) expressou preocupação com os impactos da popularização da plataforma brasileira em um relatório oficial. O Pix está em uso no Brasil desde novembro de 2020.
No documento, o USTR afirmou que estava “monitorando de perto os desenvolvimentos relacionados ao mercado de pagamentos eletrônicos de varejo no Brasil para garantir que o Banco Central [BC] brasileiro facilite condições equitativas para todos os participantes do mercado, dado o papel duplo do BC como regulador e operador do Pix”. O relatório de 2022 foi a primeira e única vez que o Pix foi mencionado nominalmente, embora documentos posteriores tenham feito referência ao sistema financeiro brasileiro.
Investigação e Concorrência
O USTR, uma agência federal que integra o gabinete executivo da presidência dos EUA e coordena a política de comércio internacional, anunciou em 16 de julho de 2025 que iniciou uma investigação sobre ações comerciais brasileiras. Entre os pontos de apuração está o estímulo governamental ao uso do Pix. Jamieson Greer, dirigente do USTR, afirmou que a investigação foi solicitada pelo presidente Donald Trump para verificar “ataques do Brasil às empresas de mídia social americanas, bem como outras práticas comerciais desleais”.
Analistas, conforme noticiado pela Agência Brasil, avaliam que as críticas do governo dos EUA podem ter relação com a concorrência que o Pix, sendo um sistema público e gratuito, representa para operadoras de cartão de crédito tradicionais e para o WhatsApp Pay. O Pix inclusive se tornou uma alternativa ao dólar em algumas transações internacionais.
Impacto e Reação do Banco Central
De acordo com o Banco Central do Brasil, o Pix movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões somente no ano passado. “O Brasil desenvolveu uma forma de meio de pagamento que oferece uma série de vantagens. O Pix é ágil, promoveu um processo de bancarização, de inclusão de pessoas que não tinham conta. E faz parte da lei de competência e de concorrência oferecer um produto cada vez melhor”, explicou a economista Cristina Helena Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em entrevista à Agência Brasil.
Uma possível razão para a “reação tardia” de Donald Trump seria a percepção de que o lançamento do Pix em 2020 pelo Banco Central teria prejudicado os planos de negócios da Meta, empresa de Mark Zuckerberg e aliada de Trump. Em junho de 2020, a Meta anunciou o lançamento do WhatsApp Pay no Brasil, permitindo o envio e recebimento de dinheiro via cartões de crédito. Uma semana depois, o BC e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam a função para avaliar riscos. Cristina Helena Mello considera que a medida do BC foi correta, pois o WhatsApp operava fora do sistema financeiro legal brasileiro, escapando da regulamentação.
A Agência Brasil tentou contato com o Banco Central e o Ministério das Relações Exteriores para comentar as menções do USTR ao Pix e ao setor financeiro brasileiro, mas não obteve retorno até o momento da publicação.