O aquecimento da economia brasileira e o encarecimento de certos produtos, como o café e a energia elétrica, impulsionaram a inflação no primeiro semestre. Essa foi a informação divulgada pelo Banco Central (BC) nesta quinta-feira (10). A autoridade monetária publicou uma carta aberta para explicar o estouro da meta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho.
Pelo sistema de meta contínua, em vigor desde o início do ano, o BC deve divulgar uma carta aberta sempre que a inflação oficial (IPCA) ultrapassar o teto de 4,5% da meta. A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3% para o IPCA, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, situando os limites entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Em junho, o IPCA registrou 0,24%, acumulando 5,35% em 12 meses. No modelo de meta contínua, a inflação acumulada em 12 meses não pode exceder o teto de 4,5% por seis meses consecutivos.
Fatores Chave da Inflação e Projeções do BC
A carta do BC detalha que houve altas mais intensas do que o esperado em diversos setores. Dentre eles, destacam-se os preços da gasolina, a inflação de serviços, alimentos industrializados (notadamente o café) e alguns bens industriais, como vestuário e automóveis. O documento também aponta surpresas positivas em preços administrados, especialmente energia elétrica residencial devido à falta de chuvas, que foram compensadas por variações mais baixas nos preços da alimentação em casa.
Em relação aos fatores que contribuíram para o desvio de 2,35 pontos percentuais da inflação em relação ao centro da meta de 3%, o BC listou: inércia da inflação dos 12 meses anteriores (0,69 p.p.); expectativas de inflação (0,58 p.p.); hiato do produto (economia produzindo acima da capacidade, 0,47 p.p.); inflação importada (0,46 p.p.); e bandeira tarifária de energia elétrica (0,27 p.p.).
Assim como no último Relatório de Política Monetária, o BC reiterou que a inflação só deve convergir para um nível abaixo do teto de 4,5% no primeiro trimestre de 2026. O relatório, que substitui o antigo Relatório de Inflação, continua a ser divulgado trimestralmente. O Banco Central projeta que a inflação acumulada em quatro trimestres ficará entre 5,4% e 5,5% nos três primeiros trimestres de 2025, cairá para 4,9% no final do ano e atingirá 4,2% no final do primeiro trimestre de 2026.
Taxa Selic e Política Monetária Contratacionista
A Taxa Selic, juros básicos da economia, é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Atualmente em 15% ao ano desde junho, a Selic está no nível mais alto desde julho de 2006.
A carta do BC indica que a política monetária deve permanecer em um patamar significativamente contracionista por um período “bastante prolongado”. Isso é necessário para assegurar a convergência da inflação à meta em um ambiente de expectativas desancoradas. A Selic é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O Copom enfatizou que mantém vigilância e que os futuros passos da política monetária poderão ser ajustados, sem hesitar em prosseguir com o ciclo de alta, se necessário.