Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2025 — A devolução de crianças adotadas é o tema central do documentário E se você não me quiser?, em produção no Rio de Janeiro e em Curitiba, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2026. O roteiro aborda adoções interrompidas e as dificuldades de uma nova adoção após a devolução.
O produtor Eliton Oliveira explica que a ideia surgiu em 2011, a partir de uma reportagem sobre devoluções de crianças. Durante a pesquisa, conversou com médicos, psicólogos, advogados e representantes de conselhos tutelares até chegar às histórias retratadas no filme.
No Rio de Janeiro, as filmagens apresentam os casos de Bruno e Pedro. Bruno, que viveu nas ruas antes de ser levado a um abrigo, foi adotado, devolvido e posteriormente recebeu uma nova oportunidade de adoção. Pedro foi adotado por um casal de mulheres, mas sentiu falta da figura paterna e pediu para ser devolvido.
A diretora Ana Azevedo ressalta que muitas famílias não estão totalmente preparadas para receber crianças com histórias de vulnerabilidade, o que pode levar à devolução e a traumas profundos. “As crianças vêm com uma bagagem gigantesca. Se a família a devolve, isso causa traumas ainda maiores”, afirma.
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indicam que, de cada 100 crianças adotadas no Brasil, cerca de nove têm o processo desfeito. Desde 2019, 24.673 crianças e adolescentes foram adotados no país, sendo 2.198 devolvidos a instituições de acolhimento (8,9%).
Embora a adoção seja considerada “medida excepcional e irrevogável” pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), juizados de infância podem atender pedidos de devolução em casos de exposição da criança a maus-tratos, abusos ou descaso. Um estudo do CNJ e da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ) aponta que fatores como diagnósticos psiquiátricos, uso de medicamentos contínuos e preparo insuficiente dos pais adotivos contribuem para a descontinuidade da adoção.
O diagnóstico ainda alerta para os impactos emocionais e psicológicos da devolução, como sentimentos de culpa, tristeza, baixa autoestima, agressividade, dificuldade de vinculação e desenvolvimento de transtornos como depressão e transtorno de estresse pós-traumático.