A Amazônia ontológica do humano abriga uma vasta e inigualável rede simbólico-estetizante de exuberantes ecossistemas que alçam voos nas singulares e plurais representações e significações artístico-culturais de expressões ancestrais historicamente condenadas à invisibilidade social excludente, avessamente movida e escamoteada pelos seus estereótipos e estigmatizações.
A invisibilidade artística dos palcos florestais amazônicos dilacera as relações da cotidianidade dos modos de vida originários com os saberes ancestro-cosmogônicos aos olhos dos demais povos da humanidade. Esse olhar poético-estético-intercultural apresenta-se desnudado diante da relevância axiológica, de valores indígenas construídos e reconstruídos no espaço vivido de minorias étnico-raciais marginalizadas da Amazônia brasileira.
É exatamente nesse espaço de ação peculiar e diversificado onde brotam pinturas e grafismos corporais também grudados na alma, esculturas minunciosamente extraídas e lapidadas na madeira, utensílios milenares fabricados na argila, nas tecelagens algodoeiras para vestimentas e demais acessórios, artesanatos de cerâmica produzidos com todos os seus simbolismos e crenças, e os cantos sagrados milenares na rica espiritualidade de seus ritos e mitos, entrelaçando a mãe terra, e entranhando-a ao sobrenatural de suas celebrações ancestrais.
Mas o colapso sagaz e avassalador da globalização industrial-financeira mundial, com o seu devastador poder hegemônico-dominante, continua afugentando a beleza e a vivacidade das expressões artísticas originárias e milenares, e ceifando a alma de uma simbologia cultural que agoniza sob a égide do ecocídio planetário, do desalojamento do ser, da derrocada humana e da absurdez aviltante da morte anunciada.
Acreditar na marca de encontros estéticos-ancestrais, acreditar nos devaneios de nações indígenas libertadas, acreditar nas águas mitológico-divinizadas, acreditar na existência saudável de nossas coletividades, acreditar na fenomenologia de vidas transcendentais, acreditar no atenuar da invisibilidade sociocultural, é também poder acreditar que um dia iremos comemorar na Amazônia brasileira: o dia mundial da arte.