Milhares de pessoas marcharam neste domingo (21) na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra o projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro e a chamada PEC da Blindagem, que pretende dar ao Congresso a prerrogativa de autorizar a abertura de processos contra parlamentares. A mobilização ocupou todas as seis faixas do Eixo Monumental.
Sob sol forte, os manifestantes caminharam atrás de um pequeno trio elétrico, após discursos e batalhas de rima organizados por lideranças políticas do DF. O ato percorreu cerca de 1,5 quilômetro, encerrando-se em frente ao Congresso Nacional, onde o cantor e compositor Chico César apresentou sucessos de sua carreira.
Com o mote “Congresso Inimigo do Povo”, os participantes entoavam palavras de ordem como “sem anistia” e “queremos Bolsonaro na cadeia”, em referência à condenação do ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão, imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participação na trama golpista de 2023.
Indignação popular
Entre os cartazes, chamavam atenção frases como “sem bandidagem” e “PEC da Bandidagem”, em protesto contra a proposta que condiciona investigações de deputados e senadores à aprovação das próprias casas legislativas.
A bancária Keyla Soares, 42 anos, disse estar indignada com a medida.
“É uma sem vergonhice. É ofensiva essa PEC. Eles só trabalham em defesa deles mesmos. O Brasil tem que se unir contra isso. Estamos lutando também pela democracia”, afirmou.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um dos principais alvos de críticas, em faixas como “Motta Capacho”, “Centrão ladrão” e “PCC: Primeiro Comando do Congresso”.
A estudante Sara Santos, 26 anos, criticou duramente a proposta e o PL da anistia.
“Depois de tudo que a gente viveu com a ditadura militar, não podemos aceitar anistia contra quem atacou a democracia e tentou dar um golpe de Estado”, disse.
Já a delegada aposentada Maria Lúcia de Souza, 62 anos, destacou que o ex-presidente Jair Bolsonaro sempre buscou se manter no poder.
“Estão subestimando nossa inteligência. Na mesma semana em que surgem notícias ligando o presidente do União Brasil ao PCC, eles aprovam essa PEC da Bandidagem. Estou revoltada”, declarou.
Para o servidor público Albert Scott, 47 anos, não há espaço para anistia a golpistas.
“É um retrocesso. Eles só votam por eles mesmos para se proteger da Justiça. Isso é inaceitável”, protestou.
Mobilização nacional
Segundo as organizações, atos contra a anistia dos condenados por tentativa de golpe de Estado e contra a PEC da Blindagem ocorreram em pelo menos 33 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais.
As manifestações foram convocadas pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, ligadas ao PSOL e ao PT, com participação de sindicatos, coletivos estudantis, artistas, MST, MTST e partidos de esquerda e centro-esquerda.