Em entrevista concedida durante evento agropecuário, Ivanir Gurgel do Amaral, produtor rural e tesoureiro da APROM (Associação dos Produtores de Gado de Corte de Rondônia), falou com firmeza e sensibilidade sobre os principais desafios enfrentados pelo setor. Com mais de 30 anos de experiência na lida com o gado, Ivanir reforçou a importância da união dos pecuaristas, do uso da tecnologia, da regularização fundiária e da valorização da atividade pecuária para o desenvolvimento sustentável de Rondônia.
Ao comentar sua longa parceria com o criador Josué Jacometti, organizador do evento, Ivanir destacou o papel dos pioneiros da pecuária rondoniense, como o saudoso Orozimbo, e reconheceu em Josué um dos grandes baluartes da melhoria genética do rebanho local.
A criação da APROM: representatividade para o produtor de gado
Ivanir contou como nasceu a APROM, uma associação criada recentemente para representar exclusivamente os pecuaristas de Rondônia — uma lacuna que não era preenchida por outras entidades já existentes para setores como a soja ou o leite. “A ideia é dar voz ao produtor de corte, construir uma rede estadual de delegados municipais e trazer as demandas de cada canto do estado”, explicou.
A diretoria, presidida por Adélio Barofaldi, conta com representantes de diversas regiões de Rondônia. A proposta é clara: fortalecer a pecuária diante de questões ambientais, legais e econômicas, com foco na coletividade.
Queimadas, crédito e regularização fundiária
Um dos pontos centrais abordados por Ivanir foi a criminalização das queimadas. Ele alertou para a injustiça de atribuir culpa aos pecuaristas por incêndios que muitas vezes ocorrem fora do seu controle. “O capim é nosso maior patrimônio. Ninguém quer queimar aquilo que nos sustenta”, afirmou. Segundo ele, é preciso conscientizar produtores e sociedade sobre o verdadeiro papel do pecuarista na conservação ambiental.
Ivanir também defendeu a urgente necessidade de regularização fundiária como condição para acesso a crédito e para o aumento da produtividade. “Tem verba no banco, mas o produtor não consegue acessar. Falta documento, falta CAR, falta CCIR”, ressaltou.
Produzir mais sem desmatar
Ivanir foi direto ao afirmar que Rondônia tem condições de triplicar seu rebanho sem precisar derrubar uma árvore sequer. “Basta corrigir o solo e investir em tecnologia. Onde hoje cabe uma cabeça de gado, podem caber três ou quatro”, disse. Segundo ele, genética, nutrição e sanidade formam o tripé essencial para alcançar essa eficiência — mas tudo isso exige investimento, planejamento e, principalmente, políticas públicas justas.
O ciclo da pecuária e a esperança na valorização
O tesoureiro da APROM falou também sobre o ciclo natural da pecuária de corte, que enfrenta um momento de baixa, especialmente após o abate excessivo de fêmeas nos últimos dois anos. No entanto, ele acredita em uma retomada. “Vai faltar bezerro, vai faltar garrote, e o preço vai subir. É a lei da oferta e da procura. O produtor que resistir agora, vai colher mais adiante”, previu.
Um chamado à união
Ao final da entrevista, Ivanir fez um convite para que mais produtores se unam à APROM. “Sozinho a gente quebra fácil. Mas juntos, formamos um feixe forte, difícil de quebrar”, afirmou. Ele reforçou que a associação está aberta para receber demandas, apoiar ações coletivas e lutar por melhorias em nome de toda a cadeia da carne bovina em Rondônia.
Com sua fala firme, Ivanir Gurgel do Amaral reforça que a pecuária do estado tem voz, tem representatividade e tem futuro, desde que caminhe unida, com conhecimento técnico, responsabilidade ambiental e apoio institucional.