Uma série de atividades criminosas tem aterrorizado moradores da região do Ipixuna, no sul do Amazonas, próximo à divisa com Rondônia. Assentados e pequenos agricultores estão sendo expulsos de suas terras por grupos armados, em meio a uma escalada de violência que inclui ameaças, incêndios criminosos e até mesmo o uso de crianças como reféns.
Segundo boletins de ocorrência registrados na Delegacia Interativa de Polícia de Humaitá, um grupo de aproximadamente nove indivíduos armados, utilizando uma caminhonete L200 branca com carroceria de madeira, tem realizado ataques sistemáticos ao assentamento.
Relatos colhidos pela equipe do News Rondônia junto à comunidade do Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Santa Maria Auxiliadora revelam um cenário de terror e desespero. Moradores, que pediram para não ser identificados por medo de represálias, descrevem uma situação de completo abandono por parte das autoridades.
Um dos moradores, relatou ter sido agredido fisicamente e ameaçado de morte por invasores fortemente armados. “Eles queimaram meu barraco e disseram que eu não podia ficar ali”, afirmou em seu depoimento.
Mais um caso chocante envolve um casal que teve sua filha sequestrada e mantida em cárcere privado. Os criminosos usaram a criança como refém para coagir a família. “Só vou entregar tua filha quando vocês tirarem os móveis de dentro da casa e forem embora das minhas terras “, teria dito um dos invasores, o que foi registrado em sede policial.
Outro morador do assentamento, teve seus pertences furtados e seu barraco incendiado. “Quebraram o cadeado da minha casa e levaram tudo. Não satisfeitos voltaram no barraco e tocaram fogo”, relatou à polícia.
Casos de cárcere privado também foram relatados, com famílias mantidas sob a mira de armas dentro de suas próprias casas. “Ficamos a noite inteira sem poder sair sob mira de armas, com medo de sermos mortos. Eles usavam drogas e nos ameaçavam o tempo todo”, contou uma das vítimas.
Diante dos momentos de terror muitos moradores estão fugindo para as cidades, abandonando suas terras e meios de subsistência. “A violência aqui é pior do que na cidade”, afirma uma moradora. “Lá, pelo menos, você pode chamar a polícia. Aqui, estamos sozinhos.”
A inação das autoridades tem sido alvo de críticas. Apesar das numerosas denúncias feitas ao Ministério Público, Polícia Civil. Os assentados agora partem para denúncias junto ao Ministério Público Federal e Polícia Federal, para buscar uma ação mais efetiva das autoridades: “Fizemos todos os B.O.s possíveis, mas nada muda”, lamenta um líder comunitário. “É como se fôssemos invisíveis para o Estado.”
O avanço dos grupos criminosos ameaça não apenas a segurança dos moradores, mas também o futuro econômico da região. O medo está desencorajando investimentos no campo, revertendo anos de progresso no desenvolvimento agrícola local.
Enquanto isso, famílias continuam a fugir deixando para trás não apenas suas casas e terras, mas também sonhos e anos de trabalho árduo. A pergunta que fica é: até quando o poder público permitirá que o crime dite as regras no campo?
Crimes Relatados – Com base nos depoimentos e informações coletadas, os seguintes crimes foram identificados:
Esbulho Possessório (Art. 161, § 1°, II, do Código Penal)
Ameaça (Art. 147 do Código Penal)
Sequestro e Cárcere Privado (Art. 148 do Código Penal)
Incêndio Criminoso (Art. 250 do Código Penal)
Associação Criminosa (Art. 288 do Código Penal)
Dano ao Patrimônio (Art. 163 do Código Penal)
Lesão Corporal (Art. 129 do Código Penal)
Furto Qualificado (Art. 155, § 4°, I do Código Penal)
A reportagem tentou contato com as autoridades responsáveis, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O silêncio oficial apenas aumenta a sensação de abandono relatada pelos moradores.