O gamer brasileiro segue enfrentando um dos maiores desafios nas partidas online: o ping alto. Muito além de um problema de conexão doméstica, a alta latência é resultado de uma combinação de fatores estruturais, geográficos e comerciais que dificultam uma experiência de jogo fluida e competitiva.
Antes de tudo, é importante entender o que significa o termo “ping”. Ele é o teste que mede o tempo de ida e volta de pacotes de dados entre o computador do jogador e o servidor do jogo, calculado em milissegundos (ms). Quanto maior esse tempo, mais atrasadas chegam as informações — o que faz com que tiros, movimentos ou comandos apareçam com atraso, interferindo diretamente no desempenho durante as partidas.
O principal fator que influencia o ping é a distância física entre o jogador e o servidor. Como a maioria dos cabos de internet no Brasil percorre longos trajetos terrestres e submarinos, qualquer desvio aumenta a quilometragem e, consequentemente, a latência. Mesmo em conexões de fibra ótica, percorrer 100 km significa cerca de 1 ms de atraso — o que, em distâncias continentais, se torna significativo.
No entanto, o problema vai além da geografia. Muitas desenvolvedoras ainda não instalam servidores dedicados no Brasil. As que o fazem, geralmente escolhem São Paulo, onde está o maior ponto de troca de tráfego de internet do mundo (IX.br). Apesar disso, apenas quem está próximo à capital paulista realmente usufrui de latência baixa. Outro ponto estratégico é Fortaleza, por ser porta de entrada de cabos submarinos e sede de grandes data centers.
Mas até quando o servidor está no país, as grandes operadoras de telecomunicações podem se tornar um obstáculo. Empresas como Claro e Nio (antiga Oi), por exemplo, já foram apontadas por rotearem o tráfego de forma ineficiente — em alguns casos, enviando os dados para fora do Brasil antes de retornarem, o que eleva o ping artificialmente. Essa prática, chamada de peering restritivo, ocorre quando as operadoras recusam-se a trocar tráfego localmente por motivos comerciais, cobrando taxas adicionais de empresas de conteúdo como Google, Roblox ou Netflix.
Enquanto o poder público, por meio da Anatel, propõe regulações que podem favorecer essas práticas comerciais, o gamer brasileiro continua arcando com as consequências: altas latências e desvantagem competitiva em jogos que dependem de precisão milimétrica.
Segundo especialistas, a solução depende tanto da pressão dos consumidores quanto do investimento das empresas de jogos em infraestrutura local. A criação de mais servidores regionais e o fortalecimento da interconexão gratuita via IX.br poderiam reduzir significativamente o ping em território nacional.
Enquanto isso não acontece, a comunidade gamer brasileira segue aguardando o “lag” sair do mapa — e torcendo para que os próximos movimentos, sejam de empresas ou de autoridades, resultem em conexões mais rápidas e justas.
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