Um complexo recém-inaugurado de fabricação de mosquitos em Campinas, interior de São Paulo, disponibiliza uma nova tecnologia contra dengue. O complexo, inaugurado na quinta-feira (2) pela Oxitec Brasil, oferece duas soluções biológicas comprovadamente eficazes na redução da transmissão da doença.
A nova instalação terá capacidade para fornecer até 190 milhões de ovos de mosquitos com Wolbachia semanalmente. Essa produção massiva é suficiente para proteger anualmente cerca de 100 milhões de pessoas contra a dengue.
A fábrica também produz a linha Aedes do Bem, que demonstrou capacidade de reduzir em 95% as populações do mosquito Aedes aegypti em áreas urbanas. O complexo entra em operação como uma resposta direta ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) por tecnologias inovadoras de controle de vetores.
Wolbachia: uma estratégia que age como vacina
O método Wolbachia foi projetado para grandes campanhas de saúde pública. Ele é formalmente reconhecido pela OMS e adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil em seu Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD).
A diretora-executiva da Oxitec Brasil, Natalia Verza Ferreira, explicou o funcionamento. Wolbachia é uma bactéria presente na natureza, mas não no Aedes aegypti. Pesquisadores australianos tiveram a ideia de transferir essa bactéria para o mosquito.
A bactéria impede o vírus da dengue de se replicar. Quando uma fêmea com a Wolbachia acasala com um macho do ambiente, toda a descendência adquire a bactéria e não consegue transmitir a doença.
Aedes do Bem: controle populacional
O método Aedes do Bem funciona de forma complementar. Ele é projetado para intervenções direcionadas, focando na supressão da população de mosquitos. Neste caso, são soltos apenas mosquitos machos no ambiente.
Estes machos acasalam com as fêmeas existentes, que são responsáveis por picar e transmitir a doença. No entanto, os descendentes desse cruzamento serão apenas machos, e todas as fêmeas morrem na fase larval.
A tecnologia contra dengue atua como um “larvicida fêmea específico”, diminuindo o número de fêmeas que picam. A recomendação dos especialistas é que as duas tecnologias não sejam utilizadas ao mesmo tempo, mas sim em sequência.
O protocolo sugere usar o Aedes do Bem primeiro para suprimir a população, especialmente na temporada mais quente. Em seguida, a Wolbachia é aplicada para “vacinar” os mosquitos que restarem, garantindo a não transmissão de doenças. O Ministério da Saúde e a Anvisa buscam soluções para regulamentar e disponibilizar amplamente a nova tecnologia contra dengue.