O consumo de álcool no Brasil apresentou uma redução nos últimos anos, mas os episódios de excesso e as consequências para a saúde pública permanecem preocupantes. Segundo a Pesquisa Nacional sobre Álcool e Drogas (Lenad III), realizada em 2023 pela Universidade Federal de São Paulo em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 42,5% dos brasileiros declararam ter consumido álcool nos últimos 12 meses, queda em relação aos 47,7% registrados em 2012.
Apesar da redução no número de consumidores, os padrões de consumo entre aqueles que mantêm o hábito mostram aumento do excesso. Em 2023, mais de 60% dos adultos relataram ter ingerido seis ou mais drinques em uma única ocasião, contra 46,3% em 2012, com uma média semanal de 5,3 bebidas por consumidor. Os homens continuam apresentando taxas mais elevadas de consumo excessivo (68,8%) em comparação às mulheres (47,7%).
O levantamento também destacou que mais de um terço da população adulta já enfrentou embriaguez aguda, gerando acidentes ou problemas de saúde, com a cerveja sendo a bebida mais associada a padrões de risco e dependência. Entre os consumidores, 31% apresentam consumo problemático e 28,6% cumprem critérios de transtorno por consumo de álcool.
Regiões do Sul e Centro-Oeste lideram o consumo anual de álcool, com 71,4% e 70,1% da população bebendo, respectivamente, enquanto o consumo excessivo em episódios é mais frequente no Centro-Oeste (16,3%). Entre adolescentes, 5,7% desenvolvem transtornos relacionados ao álcool, com meninas superando os meninos em todos os parâmetros de consumo.
Os impactos do álcool vão além da saúde. Entre 2022 e 2023, o alcoolismo causou 21 mortes por dia no país e aumento de 2,8% nas hospitalizações, afetando majoritariamente homens (86,4%). Além disso, o álcool está relacionado a acidentes de trânsito, mortes violentas e infrações da Lei Seca, que registrou mais de 3,2 milhões de penalizações desde 2008.
A pesquisa também revelou um aumento na experimentação de drogas ilícitas. Cerca de 11,4 milhões de brasileiros acima de 14 anos já consumiram cocaína ou crack, enquanto 5,38% já usaram cocaína na vida, um aumento em relação a 2012. Entre os usuários recentes, quase metade faz uso frequente, indicando risco de dependência.
O estudo destaca ainda desigualdades sociais no consumo: índices mais altos são observados entre pessoas com menor escolaridade, renda de até dois salários mínimos e em determinadas faixas etárias e grupos étnicos. As regiões Sudeste e Norte registram maior percepção de tráfico de drogas, afetando especialmente grandes centros urbanos.
Para enfrentar esses desafios, o governo federal lançou novas ferramentas, como a página temática do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, destinada a centralizar dados atualizados e apoiar políticas públicas. Pesquisadores apontam que políticas de preços, restrições à publicidade e maior acesso a tratamentos são essenciais para reduzir os danos associados ao álcool e outras substâncias.