A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) está alertando para a grave falta de centros de infusão no Sistema Único de Saúde (SUS). Para a entidade, a ausência de locais e protocolos adequados coloca em risco o tratamento de pacientes com doenças crônicas autoimunes e raras. Além disso, a situação pode levar à perda de medicamentos de alto custo fornecidos pelo sistema público.
O reumatologista Vander Fernandes, coordenador da Comissão de Centros de Terapia Assistida da SBR, destacou o problema. Em entrevista durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, em Salvador (BA), ele afirmou que existe “um vazio entre o doente pegar o remédio e ir a algum lugar que vá atendê-lo e fazer isso com segurança”.
O Vazio de Assistência no SUS
Apesar de o SUS fornecer gratuitamente medicamentos imunobiológicos de alta tecnologia, a rede de cuidados para a sua administração é precária. O medicamento infliximabe, por exemplo, que exige aplicação por infusão a cada oito semanas, é fornecido gratuitamente.
O paciente Fernando Henrique dos Santos, 42 anos, morador de Guarulhos (SP), enfrentou essa dificuldade. Após ter seu diagnóstico alterado para espondilite anquilosante, ele precisava da infusão. “Pelo SUS eu não consigo [fazer o tratamento]”, relatou Santos, que teve que recorrer ao convênio médico após o rompimento de um contrato que oferecia o serviço em Mogi das Cruzes.
Vander Fernandes explica que o SUS errou ao tratar esta tecnologia apenas como um remédio. Estes medicamentos precisam de equipe especializada e local adequado para infusão, que pode durar de duas a seis horas. A falta desses centros prejudica a eficácia, pois alguns remédios exigem temperatura específica de armazenamento, a chamada cadeia de frio.
A Urgência da Regulamentação e Financiamento
A SBR revelou que o Brasil possui apenas 61 centros de terapia assistida, sendo a maioria privada e concentrada na Região Sudeste. Apenas 11 desses centros têm contrato com o SUS. Estima-se que cerca de 20 mil pacientes dependem dessa assistência especializada para o uso de medicamentos infusonais.
Uma pesquisa realizada em julho de 2023 pela Biored Brasil, com 761 pacientes, confirmou o problema. O estudo apontou que 10% dos pacientes estavam sem acesso à aplicação e 46% não tinham centros próximos. Além disso, 55% dos pacientes declararam pagar entre R$ 150 e R$ 200 por aplicação.
O reumatologista Vander Fernandes defende a urgência: “Nossa luta é para que o Ministério da Saúde solte esse regramento [sobre os centros], crie um financiamento para isso”. A implementação permitiria que estados e municípios credenciassem serviços e pleiteassem recursos.
Procurado, o Ministério da Saúde informou que está analisando a criação desses pontos, e que o processo se encontra na fase de estudos técnicos.