Pela primeira vez na história, o excesso de peso grave superou a desnutrição como a principal forma de má nutrição infantil no mundo. O alerta vem do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em um relatório que analisou dados de mais de 190 países. Segundo a organização, cerca de 391 milhões de crianças e adolescentes estão acima do peso, sendo que quase 188 milhões apresentam obesidade infantil.
O relatório mostra que a prevalência de desnutrição caiu de quase 13% para 9,2% entre 2000 e 2025. No mesmo período, as taxas de obesidade subiram de 3% para 9,4%. Apenas a África Subsaariana e o Sul da Ásia ainda apresentam a desnutrição como o problema de nutrição mais prevalente.
O panorama brasileiro
No Brasil, o cenário de prevalência da obesidade infantil já é uma realidade há décadas. Em 2000, 5% das crianças e adolescentes tinham obesidade, enquanto a desnutrição afetava 4%. Até 2022, o índice de obesidade triplicou, chegando a 15%, e o de sobrepeso dobrou para 36%. A desnutrição, por outro lado, continuou a cair, atingindo 3% da população.
A principal causa, segundo o Unicef, é a substituição de alimentos tradicionais e saudáveis por produtos ultraprocessados, que são mais baratos e dominam o mercado. Esses alimentos, ricos em açúcar, sal, gorduras e aditivos, impactam diretamente a saúde das crianças e aumentam o risco de doenças como diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares na vida adulta.
Soluções e exemplos positivos
O Unicef destaca que a mudança na dieta das crianças não se deve a escolhas pessoais, mas sim a “ambientes alimentares prejudiciais” criados pelo marketing agressivo da indústria de alimentos. A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, lamenta que a obesidade seja uma preocupação crescente. A organização calcula que, se não houver intervenções, o impacto econômico global da obesidade e do sobrepeso pode superar US$ 4 trilhões por ano até 2035.
Apesar do cenário alarmante, o relatório aponta o Brasil como um exemplo positivo de país que tem adotado medidas para combater o problema. Entre as ações destacadas estão a restrição de compra de ultraprocessados na alimentação escolar, a proibição de publicidade de alimentos não saudáveis para crianças, a rotulagem frontal obrigatória e a proibição de gorduras trans na produção de alimentos.