Um estudo liderado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) revelou que quase 60% dos casos de demência no Brasil estão associados a fatores de risco que poderiam ser prevenidos. As três condições modificáveis com maior impacto são: baixa escolaridade na infância, perda da capacidade visual não tratada e depressão.
Esses fatores modificáveis podem ser combatidos com políticas públicas e intervenções individuais, ao contrário de fatores como idade e genética. A pesquisa, que utilizou dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), indicou que a soma de 14 fatores de risco está associada a 59,5% dos casos de demência no país, um percentual maior que a média mundial de 45%.
Principais fatores de risco
A baixa escolaridade na infância foi o principal fator de risco, com 9,5% de associação aos casos de demência. A perda visual na velhice ficou em segundo lugar, com 9,2%, seguida pela depressão na meia-idade, com 6,3%. Os outros fatores identificados incluem isolamento social, poluição do ar, hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo.
Segundo a professora Cláudia Suemoto, uma das autoras do estudo, a influência da educação está ligada à reserva cognitiva. Já a perda visual e a depressão impactam o cérebro ao reduzir a estimulação cerebral e a criação de novas conexões neurais. O estudo também aponta que a contribuição da baixa escolaridade e da perda visual é maior em regiões mais pobres e entre pessoas negras, destacando as desigualdades sociais e o acesso limitado à saúde.
Prevenção e políticas públicas
A pesquisa ressalta a importância de a prevenção da demência começar cedo e ser um pilar das políticas públicas. A professora Suemoto defende que os gestores de saúde devem planejar programas que aumentem a escolaridade, tratem a depressão e ajudem a população a controlar fatores de risco como hipertensão e diabetes.
Em um país com uma população idosa crescente, a prevenção é considerada essencial. A prevalência da demência, que afeta entre 12,5% e 17,5% dos idosos brasileiros, representa um desafio que não pode ser enfrentado apenas com tratamentos, mas sim com ações preventivas em várias fases da vida.