Pacientes oncológicas e representantes da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) realizaram nesta quarta-feira (9), em Brasília, uma manifestação em frente ao Ministério da Saúde. O objetivo principal é garantir o acesso a tratamentos já aprovados para o câncer de mama em estágio avançado e metastático, mas que ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
A Campanha PCDT Rosa e a Demanda por Tratamentos do Câncer de Mama
A Coordenadora de Comunicação da Femama, Mely Paredes, explicou que a mobilização visa sensibilizar a pasta para promover o acesso a medicamentos que já constam no Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do câncer de mama, conhecido como PCDT Rosa, publicado em dezembro de 2024.
“A função desse protocolo, a razão dele existir é que ele padroniza e regulamenta todas as linhas de cuidado do câncer de mama, com todas as medicações de cada linha de tratamento”, destacou Mely. Ela ressaltou que medicações incorporadas em 2021 e 2022 para câncer de mama metastático e avançado não estavam sendo disponibilizadas por falta de regulamentação.
A campanha “PCDT Rosa: quantos passos faltam?” faz alusão à jornada pelo acesso ao tratamento. Em 5 de junho de 2025, completaram-se seis meses da publicação do documento sem que o acesso pleno às medicações para câncer de mama avançado e metastático fosse uma realidade. “O que acontece com essas pacientes? Não é que elas ficam sem tratamento. Elas recebem os tratamentos disponíveis dentro dos centros de saúde, mas que não são os mais adequados”, alertou Mely.
Impacto da Não Disponibilização de Medicamentos para o Câncer de Mama
Apesar da aprovação do PCDT Rosa, a Femama alerta que muitas mulheres com câncer de mama avançado e metastático na rede pública não têm acesso aos novos medicamentos incorporados. Essa falta de acesso impacta diretamente a qualidade de vida e a taxa de sobrevida das pacientes.
A entidade enfatiza que a efetividade de uma política pública reside na disponibilização integral de tudo o que a regulamentação estabelece. Portarias de 2021 e 2022 oficializaram a incorporação de inibidores de ciclina e do trastuzumabe entansina no SUS, mas para a Femama, esses são apenas os primeiros passos de uma longa caminhada.
A Realidade dos Pacientes com Câncer de Mama no SUS
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) preveem cerca de 74 mil novos casos anuais de câncer de mama no Brasil, e aproximadamente 75% da população depende exclusivamente do SUS.
A campanha “PCDT Rosa: quantos passos faltam?” utiliza uma metáfora de caminhada para ilustrar o tempo de espera. “Mais de 8,9 milhões de passos foram dados até o marco dos seis meses da publicação do PCDT, em junho de 2025, sem que a disponibilização igualitária dos novos medicamentos para as pacientes fosse uma realidade”, conforme a Femama.
A história de Cintia Cerqueira, de 49 anos, exemplifica a luta das pacientes. Diagnosticada com câncer de mama em 2018, a doença atingiu os ossos e o cérebro no ano seguinte, resultando em metástase. Cintia precisou acionar a Justiça para ter acesso aos medicamentos mais adequados e, mesmo assim, esperou cerca de oito meses pelo tratamento.
“Dói mais que o câncer saber que existe um medicamento que pode te dar vida, mas que você não tem acesso. O que a gente quer é o mesmo direito que quem tem um câncer primário tem. Não porque somos melhores, mas porque não temos tempo pra esperar. Nossa luta é diária pra que os medicamentos sejam liberados”, desabafou Cintia, que teve sua qualidade de vida drasticamente melhorada após conseguir o acesso à medicação.