A saúde mental dos trabalhadores brasileiros vive um momento crítico. Dados recentes revelam que os afastamentos por transtornos psicológicos no ambiente de trabalho aumentaram 134% nos últimos anos, escancarando uma realidade preocupante: o esgotamento emocional e os impactos da rotina corporativa têm adoecido milhares de profissionais em todo o país.
Esse crescimento vertiginoso está ligado a diversos fatores: pressão por resultados, jornadas exaustivas, insegurança profissional, ambientes tóxicos e falta de apoio emocional são algumas das causas mais apontadas por especialistas. O cenário foi agravado pela pandemia e, mesmo após o retorno às atividades presenciais ou híbridas, os reflexos continuam sendo sentidos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais como ansiedade, depressão, burnout e síndrome do pânico já estão entre as principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo. No Brasil, essa tendência segue em alta, com impacto direto tanto na produtividade quanto nos custos operacionais das empresas e do sistema de saúde pública.
Quando o cansaço vira doença
O que antes era interpretado como “mero estresse” ou “fraqueza emocional” tem sido cada vez mais reconhecido como condição clínica séria, que precisa de acompanhamento psicológico e, em muitos casos, psiquiátrico. O esgotamento profissional, conhecido como Síndrome de Burnout, foi oficialmente classificado como doença ocupacional pela OMS em 2022, reforçando a necessidade de prevenção no ambiente de trabalho.
“As empresas precisam entender que cuidar da saúde mental é uma forma de investir no seu próprio crescimento”, afirma a psicóloga organizacional Carolina Meirelles. “Funcionários emocionalmente sobrecarregados cometem mais erros, produzem menos e adoecem com mais frequência.”
Empresas ainda negligenciam o tema
Apesar dos números alarmantes, muitas organizações ainda negligenciam a saúde emocional de seus colaboradores. Faltam programas estruturados de apoio psicológico, canais de escuta ativa, treinamentos sobre inteligência emocional e lideranças preparadas para lidar com esses temas.
Outras, porém, já estão se movimentando. Algumas empresas adotaram iniciativas como horários flexíveis, atendimento psicológico gratuito, pausas estratégicas ao longo do dia, campanhas de conscientização e espaços de descompressão nos escritórios. A cultura corporativa também está passando por transformações, ainda que lentamente.
Cuidar da mente é produtividade a longo prazo
Especialistas em gestão de pessoas apontam que investir em saúde mental é uma estratégia de retenção de talentos e aumento da produtividade sustentável. Além disso, melhora o clima organizacional, reduz os índices de turnover e fortalece a reputação da marca empregadora.
No Brasil, a pauta ainda engatinha, mas o alerta está lançado: ignorar o adoecimento emocional dos colaboradores não é mais uma opção. O futuro do trabalho é mais humano, e isso começa pela escuta, pelo acolhimento e pela promoção da saúde integral.