Em Turilândia, no Maranhão, o clima administrativo deu lugar a um cenário que mais parece uma aula prática sobre o que não deve acontecer na gestão pública. Após dois dias foragido, o prefeito Paulo Curió, do União Brasil, apresentou-se à polícia na manhã desta quarta-feira, em São Luís, encerrando um breve capítulo de fuga, mas abrindo espaço para um enredo ainda mais complexo do ponto de vista jurídico e político.
Segundo o Ministério Público do Maranhão, o caso não se resume ao chefe do Executivo. As investigações atingem um amplo grupo de agentes públicos: 20 vereadores e um ex-vereador são apontados como integrantes de um suposto esquema de desvio de recursos públicos. A Operação Tântalo II, deflagrada na última segunda-feira, apura o desvio de mais de R$ 56 milhões por meio de empresas criadas de forma fictícia e contratos públicos supostamente fraudulentos.
A lista de investigados também inclui nomes de grande relevância no município. Se apresentaram à polícia, além do prefeito, a primeira-dama Eva Curió, a ex-vice-prefeita Janaína Lima, o marido dela, Marlon Serrão, e o contador da prefeitura, Wandson Jhonathan Barros. Com isso, todos os mandados de prisão em aberto foram cumpridos. O Ministério Público afirma que os investigados atuariam de maneira organizada e estruturada, configurando, em tese, uma organização criminosa.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), a participação de vereadores no esquema seria praticamente generalizada. “Na Câmara, todos os vereadores faziam parte do esquema, recebendo dinheiro desviado diretamente ou por meio de parentes”, afirmou o promotor Fernando Berniz. Para evitar um colapso institucional, a Justiça converteu as prisões preventivas de 11 vereadores em domiciliar ou monitoramento por tornozeleira eletrônica. Já o prefeito e a vice-prefeita, Tânia Mendes, serão encaminhados ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas.
As investigações apontam ainda para atos sofisticados de suposta lavagem de dinheiro. Um posto de combustível pertencente à ex-vice-prefeita e ao marido dela teria sido utilizado como instrumento para simular abastecimentos que nunca ocorreram, enquanto os valores retornariam para o prefeito. Em outra frente da apuração, a responsável pelos pregões eletrônicos do município admitiu que cerca de 95% das licitações teriam sido fraudadas, revelando a dimensão do problema.
Enquanto alguns investigados seguem foragidos, outros aguardam os desdobramentos usando tornozeleira eletrônica. Mesmo investigado, o presidente da Câmara, José Luiz Araújo, deverá assumir interinamente a prefeitura, em uma tentativa de evitar o completo bloqueio administrativo do município — um gesto institucional necessário diante de um cenário que já ultrapassou o limite da anormalidade.
As defesas de Paulo Curió e Eva Curió afirmaram que ambos estão à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos. As demais defesas não se manifestaram.
Turilândia agora convive com uma difícil equação: retomar a normalidade administrativa enquanto enfrenta uma das mais graves crises políticas de sua história. O futuro do município dependerá, a partir de agora, não de discursos, mas do rigor das instituições e da transparência que a população tanto espera.










































