O Governo do Brasil lançou nesta quinta-feira (13), em Belém (PA), o Plano de Ação em Saúde de Belém, primeiro documento internacional de adaptação climática dedicado exclusivamente à saúde. A iniciativa, apresentada durante a COP30, estabelece diretrizes para que países enfrentem os efeitos já sentidos das mudanças climáticas, especialmente entre populações mais vulneráveis.
Além do lançamento, o dia foi marcado pelo anúncio de US$ 300 milhões destinados ao setor, por meio da Coalizão de Financiadores de Clima e Saúde — um grupo internacional formado por mais de 35 entidades filantrópicas. Os recursos serão aplicados em ações integradas que abordam tanto as causas da crise climática quanto seus impactos diretos na saúde pública.
“É tempo de ação”, diz ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressaltou que a adaptação climática precisa ter o mesmo peso político e estratégico que a mitigação.
“A COP30 nos coloca diante de um dilema: permanecer nos discursos ou transformar compromisso político em ação concreta. A resposta do Brasil é clara: é tempo de agir. Precisamos de estratégias de adaptação coordenadas, que valorizem o multilateralismo e reconheçam necessidades locais”, afirmou.
Padilha também reforçou que, para muitos países, adaptar-se não é escolha, mas uma questão de sobrevivência imediata.
A CEO da COP30, Ana Toni, destacou a centralidade da saúde nas discussões desta edição do evento.
“Trazer o SUS para o coração da COP é fundamental. Já temos 80 países e parceiros envolvidos neste Plano de Ação, e isso abre caminho para novos passos”, disse.
O secretário-executivo da UNFCCC ressaltou que o plano inaugura um novo patamar de ação internacional ao fornecer uma base concreta para implementação de políticas climáticas na saúde.
O que prevê o Plano de Ação de Saúde de Belém
O plano se concentra na construção de sistemas de saúde resilientes ao clima, priorizando equidade e justiça sanitária. A execução será coordenada em parceria com a Aliança para Ação Transformadora em Clima e Saúde (ATACH), sob supervisão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre os principais eixos estão:
- Fortalecimento da vigilância e monitoramento de saúde, com foco em surtos, ondas de calor e eventos climáticos extremos.
- Implementação de políticas baseadas em evidências, tecnologia e capacitação profissional.
- Investimentos em pesquisa, tecnologia e infraestrutura para proteger populações mais vulneráveis.
Investimentos internacionais
A Coalizão de Financiadores de Clima e Saúde reúne entidades como Bloomberg Philanthropies, Gates Foundation, IKEA Foundation, Rockefeller Foundation e Wellcome Trust. O aporte inicial de US$ 300 milhões financiará soluções contra calor extremo, poluição do ar, doenças sensíveis ao clima e integração de dados climáticos com sistemas de saúde.
“Unir prioridades e recursos acelera soluções e amplia o impacto para proteger vidas em todo o mundo”, afirmou Naveen Rao, vice-presidente sênior de Saúde da The Rockefeller Foundation.
John-Arne Røttingen, CEO da Wellcome Trust, alertou que os cientistas já vinham prevendo os impactos:
“Os efeitos do aumento das temperaturas recaem com mais força sobre crianças, idosos, gestantes e trabalhadores ao ar livre. Precisamos agir rápido para salvar vidas e meios de subsistência.”
Crise de saúde já é realidade
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, destacou que a crise climática já pressiona sistemas de saúde globalmente. “A OMS pede há décadas por adaptação e resiliência. O plano brasileiro é um avanço essencial”, afirmou em vídeo durante a reunião ministerial de saúde da COP30.
Relatórios recentes reforçam o cenário:
- Mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% desde a década de 1990, chegando a 546 mil por ano.
- Em 2024, 154 mil mortes foram associadas à fumaça de incêndios florestais.
- O potencial global de transmissão de dengue cresceu até 49% desde a década de 1950.
Eventos extremos também têm afetado cadeias de alimentos e água, além de sobrecarregar redes de saúde — sobretudo em regiões pobres.
Adesão voluntária
O plano está aberto à adesão voluntária de países, organizações internacionais, sociedade civil, academia, setor privado e filantropias. Ele compõe ainda a Agenda de Ação da COP30 e responde a compromissos internacionais, como a Meta Global de Adaptação do Acordo de Paris e resoluções da Assembleia Mundial da Saúde.









































