Em discurso na IV Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), realizada neste domingo (9) em Santa Marta, na Colômbia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a paz, o multilateralismo e a multipolaridade como pilares de uma nova ordem mundial.
O encontro reuniu líderes europeus, latino-americanos e caribenhos para discutir temas como integração econômica, segurança internacional, democracia e sustentabilidade. Lula enfatizou a necessidade de fortalecer os laços regionais e lamentou a atual crise de integração.
“Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”, afirmou Lula, ao cobrar avanços concretos no Acordo Mercosul-União Europeia.
O presidente também alertou para o crescimento da intolerância e do extremismo político, fatores que, segundo ele, ameaçam a democracia e a cooperação internacional.
“A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa. Voltamos a conviver com as ameaças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado”, disse.
Segurança e cooperação internacional
Lula destacou que a segurança é dever do Estado e um direito humano fundamental, defendendo que o combate à criminalidade deve respeitar o direito internacional.
Ele também reforçou que nenhum país pode enfrentar o crime transnacional isoladamente.
“É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas”, destacou.
Como exemplos de sucesso, o presidente mencionou a renovação do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai) e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, em Manaus, que reúne nove países sul-americanos.
Integração econômica e desenvolvimento
Na pauta econômica, Lula apontou o Acordo Mercosul-União Europeia como essencial para o fortalecimento do multilateralismo comercial e a redução do unilateralismo econômico.
Segundo ele, o tratado poderá integrar um mercado de 718 milhões de pessoas, fortalecendo o papel da América Latina e do Caribe na economia global.
“Espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras como resposta ao unilateralismo”, declarou.
O presidente também ressaltou que a região precisa reverter seu papel histórico de fornecedora de matéria-prima e mão de obra barata, e buscar valor agregado e inovação em suas economias.
COP30 e transição energética
Durante o discurso, Lula lembrou da COP30, realizada na Amazônia, e apresentou o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como um modelo inovador de preservação ambiental.
“O TFFF é uma solução para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas. A transição energética é inevitável, e nossa região é fonte segura de energia limpa”, afirmou.
Proposta histórica à ONU
Encerrando sua fala, o presidente defendeu maior protagonismo feminino na diplomacia internacional.
“É chegada a hora de ter uma latino-americana no cargo de Secretária-Geral da ONU”, propôs Lula.
O presidente destacou que tanto a América Latina e o Caribe quanto a Europa podem enviar ao mundo um sinal de comprometimento com a paz, a cooperação e o desenvolvimento sustentável.
Sobre a Celac-UE
A Celac foi criada em 2010 e reúne 33 países da América Latina e do Caribe, com foco em temas como segurança alimentar, saúde, energia, desenvolvimento sustentável e transformação digital.
A Colômbia ocupa a presidência pro tempore em 2025, sucedendo Honduras, e será seguida pelo Uruguai em 2026.
O Brasil, que teve papel central na criação da Celac, retomou sua participação plena em janeiro de 2023, após três anos de ausência, reafirmando a integração regional como prioridade da política externa.











































