Após um período de tensão nas relações bilaterais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um gesto de aproximação com Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU, chamando-o de “um cara legal” e sinalizando um possível encontro. A fala surpreendeu e, segundo Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional e Comparada da UFMG, desfez o mito de que a direita teria o monopólio de acesso ao governo Trump.
Lula se mostrou otimista com a possibilidade de uma reunião, afirmando que a conversa seria entre “dois seres humanos civilizados”. Para Lopes, a postura de Lula é uma resposta calculada, que busca equilibrar o tom amigável com uma tática defensiva, priorizando o interesse nacional e mantendo a guarda alta.
A Tática de Lula e o Cenário Político
Para o especialista, o afago de Trump, ainda que improvisado, foi um “golpe duro na oposição, sobretudo na bolsonarista”, que se sentiu impactada e terá que reorganizar sua narrativa. Lopes descarta a ideia de que a aproximação seja uma “armadilha” para Lula, atribuindo a fala de Trump ao seu estilo imprevisível.
Lula, por sua vez, tem mantido uma postura defensiva desde o início do governo Trump, sem ceder à pressão por pautas como a anistia a Jair Bolsonaro. Para o presidente brasileiro, a soberania e a democracia não são negociáveis. Essa solidez permitiu ao Brasil resistir à pressão e, segundo o professor, levou a uma “revisão de rota” por parte de Washington.
O Que Está em Jogo nas Negociações
Embora as conversas políticas estejam fora de cogitação, o especialista avalia que há espaço para avanços na pauta comercial. O Brasil tem como trunfos um mercado de 210 milhões de consumidores e a posse de minerais estratégicos, como as terras raras, que interessam muito aos Estados Unidos. Lula já sinalizou abertura para discutir o tema.
No entanto, o professor alerta que a postura brasileira deve ser de cautela, sem buscar concessões a todo custo. A relação deve ser pautada pela “igualdade soberana entre as nações”.
A Estratégia Discursiva de Lula
Lopes analisa a fala de Lula sobre a possível reunião entre “dois homens de 80 anos” como uma tática discursiva muito “feliz”. Ao evocar a senioridade, o presidente brasileiro tenta nivelar a conversa e “equiparar” os dois líderes, mostrando que ambos pertencem ao mesmo mundo e têm a mesma experiência de vida.
O especialista reitera, no entanto, que a mensagem de Lula não pode ser tomada pelo seu valor de face. A tranquilidade do presidente vem da sua experiência em negociações e da confiança em sua equipe diplomática. “A cautela vai prevalecer, e o Brasil não vai de peito aberto para uma reunião assim”, conclui Lopes.