A saída da Federação formada pelo PP e União Brasil do governo Lula tem como objetivo principal herdar os votos leais ao ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo a análise do cientista político João Feres Júnior. O anúncio ocorreu no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento da trama golpista, que pode resultar na condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Em entrevista à Agência Brasil, Feres Júnior, que é professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), explicou que os partidos de direita que integram a base aliada temem o enfraquecimento eleitoral em meio à polarização entre o PL e o PT. “A saída deles do governo é em busca de uma revitalização por meio do voto e aí eles colam no bolsonarismo”, destacou.
A Federação União-PP forma a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 109 parlamentares, e também conta com 14 senadores.
Movimentação para 2026
A cientista política Michelle Fernandez, professora da Universidade de Brasília (UnB), reforçou a visão de que a saída dos partidos está ligada às estratégias para a eleição geral de 2026. Ela pontuou que algumas legendas pressionaram seus parlamentares para se desvincularem do governo e se juntarem à oposição no próximo ano.
O deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos-TO), alvo de uma operação da Polícia Federal (PF), também mencionou a influência de terceiros em notas fiscais. Ayres afirma que sua participação se limitou à destinação de emendas para a aquisição de cestas básicas.
Para o professor Feres Júnior, a medida que o destino de Bolsonaro se sela, a ansiedade no campo da direita aumenta, gerando uma competição pelos votos do ex-presidente. A tentativa de aprovar o projeto de lei da anistia aos condenados por tentativa de golpe seria uma forma de “reavivar o Bolsonaro”, já que ele organiza o campo da direita e diminuiria a “competição fratricida” pelos votos.
A cientista política Michelle Fernandez observa que a pressão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pela anistia também faz parte da estratégia para herdar os votos bolsonaristas. No entanto, Feres Júnior avalia que Tarcísio pode não ter o consenso da direita.