Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, voltou ao centro do noticiário internacional após conceder uma rara entrevista ao Washington Post. Descrito pelo jornal como “o juiz que se recusa a se curvar à vontade de Trump”, Moraes detalhou como sua atuação no combate à desinformação e na defesa das instituições brasileiras o transformou em alvo de líderes populistas, empresários e até mesmo de sanções impostas pelos Estados Unidos.
No relato, Moraes aparece em um momento de descanso: assistia ao Corinthians, seu time de coração, quando foi notificado de que Jair Bolsonaro teria violado uma ordem judicial que o proibia de usar redes sociais. O magistrado reagiu de imediato, decretando a prisão domiciliar do ex-presidente. Em sua decisão, escreveu: “O tribunal não permitirá que o réu faça dele um palhaço.”
Conflitos que transcendem fronteiras
Esse episódio, segundo o Post, sintetiza a trajetória de Moraes: firmeza, confronto e a convicção de que o papel do Judiciário é impedir a corrosão democrática. Como jovem promotor, enfrentou esquemas de corrupção na Prefeitura de São Paulo. Como ministro do STF, encarou diretamente Bolsonaro, Elon Musk e agora Donald Trump.
Trump classificou a atuação de Moraes como uma “caça às bruxas” contra conservadores e uma afronta à liberdade de expressão. Em resposta, adotou medidas drásticas: aumentou tarifas sobre produtos brasileiros em 50%, cancelou o visto de entrada de Moraes nos EUA e, em um passo sem precedentes, aplicou sanções contra ele sob a Lei Magnitsky — legislação reservada a casos graves de corrupção e violações de direitos humanos.
Ainda assim, o magistrado garantiu ao jornal americano que não se sente intimidado:
“Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado será condenado, quem tiver que ser absolvido será absolvido.”
Entre apoiadores e críticos
A reportagem ouviu 12 fontes próximas a Moraes — amigos, colegas e ex-integrantes do STF. Para muitos, ele é um “xerife da democracia”, capaz de conter o avanço do autoritarismo no Brasil e preservar a estabilidade das instituições. Seus defensores destacam que, em tempos de polarização extrema e ataques coordenados às cortes, sua postura enérgica foi vital.
Mas não faltam críticas. O ex-ministro Marco Aurélio Mello declarou: “Fico triste com a deterioração da instituição. A história é implacável. Ela acerta as contas depois.” Para críticos, o acúmulo de poderes nas mãos de Moraes ameaça a própria credibilidade da Suprema Corte.
Entre a autocracia e a democracia
Na entrevista, Moraes rejeitou as acusações de autoritarismo. Comparou o Brasil a um organismo que foi “infectado pela doença da autocracia” e afirmou que seu papel é aplicar a “vacina” para preservar a democracia. Cercado por pilhas de livros em seu gabinete em Brasília, disse com serenidade: “Não há como recuar do que devemos fazer. Digo isso com completa tranquilidade.”
Uma figura globalmente única
As ações de Moraes têm repercussão além das fronteiras brasileiras. A suspensão do X (antigo Twitter), por exemplo, levou Elon Musk a chamá-lo de “Darth Vader do Brasil”. Já a decisão de colocar Bolsonaro em prisão domiciliar praticamente silenciou uma das vozes mais poderosas da direita mundial.
Para o Washington Post, Moraes representa um fenômeno raro: um juiz que extrapola os limites do tribunal e se torna personagem central nas disputas políticas globais sobre democracia, liberdade de expressão e tecnologia.