A cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid passou a avaliar a possibilidade de requisitar um delegado que não seja da Polícia Federal para auxiliar nos trabalhos da comissão.
A hipótese foi levantada devido ao receio de retaliação manifestado por delegados federais. Segundo parlamentares ouvidos pelo G1 e pela TV Globo, delegados relutam em atuar nas apurações com "medo" de serem retaliados pelo comando da corporação, subordinada ao Ministério da Justiça.
O auxílio de delegados seria útil, entre outras tarefas, para a formulação de questionamentos a testemunhas, elaboração de pedidos de quebra de sigilo, e análise de grande volume de documentos sigilosos, que estão em uma sala-cofre da CPI.
Nesta sexta-feira (28), o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que a requisição de delegados deve ser definida na próxima semana.
“Precisamos formatar a investigação, do ponto de vista processual, registrar todos os pedidos, todas as respostas, contabilizar as respostas que não chegaram, reiterá-las, e fazer um formato. E, para isso, é muito importante que tenhamos a experiência de um delegado, que pode ser da Polícia Federal ou de qualquer outra polícia, desde que tenha formação adequada para colaborar na investigação”, disse o emedebista.
‘Vidas poderiam ter sido salvas’
Em entrevista a jornalistas, depois de visitar a sala-cofre da CPI nesta sexta-feira (28) ao lado de Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE), Renan Calheiros afirmou já ter “clareza” de que vidas poderiam ter sido salvas caso o governo tivesse outra postura no enfrentamento da CPI.
“Nós já temos clareza absoluta, 100% de convicção, de que muitas vidas poderiam ter sido salvas se o governo tivesse adotado um comportamento público, com decisões lógicas, objetivas, em favor da ciência e em defesa da vida dos brasileiros”, disse Renan.
Ainda segundo o relator, o governo preferiu “dificultar a relação com os outros poderes” e passou à sociedade a ideia de que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – que reconheceu a competência da União, dos estados e municípios de tomar medidas de enfrentamento à pandemia – era um ato contra o governo.
Vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues disse que a CPI está atuando em pelo menos duas principais linhas de investigação: omissão na compra de vacinas e assessoramento ‘paralelo’ e não especializado no enfrentamento à pandemia.
“Esse comando paralelo apostou na estratégia da infecção de todos, da chamada imunidade de rebanho, como alternativa para derrotar a pandemia, que se demonstrou [estratégia] fracassada”, disse.