O Comando Vermelho (CV), facção alvo da recente megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, surgiu no chamado “Caldeirão do Inferno”, apelido do complexo penitenciário Cândido Mendes, em Ilha Grande, Rio de Janeiro. A facção se formou entre as décadas de 1970 e 1980, tornando-se uma das mais influentes do tráfico no RJ.
A operação, que visava frear o avanço do CV e cumpriu mais de 100 mandados de prisão, culminou em 121 mortes (117 suspeitos e 4 policiais). A ação resultou na prisão de 113 pessoas (33 de outros estados) e apreensão de 118 armas, incluindo 91 fuzis.
A história do presídio e a Falange Vermelha
Historicamente, Ilha Grande, a mais de 100 quilômetros da capital, foi usada para isolar pessoas, desde doentes na época do Império até presos políticos e criminosos comuns na ditadura militar.
A violência extrema na Penitenciária Cândido Mendes, construída em 1963, rendeu-lhe o apelido de “Caldeirão do Inferno”. Com a ditadura militar, a prisão recebeu presos políticos e, a partir de 1969, homicidas, estupradores e assaltantes.
Os presos políticos promoveram organização interna, criando uma farmácia, biblioteca e um fundo coletivo para dividir alimentos. A integração entre presos políticos e criminosos comuns, no entanto, levou à divisão das galerias. Os presos comuns foram alocados no “Fundão”, onde aumentou a mobilização da massa carcerária.
Essa organização dos detentos resultou na criação da Falange da LSN (referência à Lei de Segurança Nacional), rebatizada em seguida como Falange Vermelha e, por fim, Comando Vermelho. O nome aparece em um relatório de 1979 do diretor do presídio, capitão Nelson Bastos Salmon.
Fuga e o início da facção nas ruas
Um marco importante na expansão da facção para fora da ilha ocorreu em 1980. Três presos fugiram de barco, incluindo José Jorge Saldanha, o Zé Bigode. A fuga deu origem à lenda da quadrilha fora do presídio.
Segundo o criminoso e escritor William da Silva Lima, o Professor, a polícia propagou a ideia de que a Falange Vermelha nasceu da convivência entre assaltantes e presos políticos, que “lhes ensinaram como comandar e funcionar de maneira mais organizada”.
Outro nome notório que integrou o grupo foi José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, que fugiu de helicóptero da ilha em 1985.
O presídio de Ilha Grande, desativado em 1994, foi implodido, marcando o fim da estrutura física onde nasceu o Comando Vermelho, mas não o fim de sua influência no crime organizado do Rio de Janeiro.









































