Uma investigação conjunta da Receita Federal e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelou que o PCC utiliza uma vasta rede de cerca de 60 motéis, em nome de laranjas, para lavar dinheiro do crime organizado. A rede de motéis, que movimentou mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, faz parte da Operação Spare, que também mira atividades ilegais nos setores de combustíveis e jogos de azar.
Segundo os investigadores, a distribuição de lucros nesses estabelecimentos era desproporcional à receita declarada, uma clara indicação de lavagem de dinheiro. Um dos motéis, por exemplo, distribuiu 64% de sua receita bruta. Restaurantes com CNPJ próprio, localizados nos motéis, também faziam parte do esquema, com um deles distribuindo R$ 1,7 milhão em lucros.
Movimentação de R$ 1 Bilhão e Bens de Luxo
A Operação Spare é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que expôs a atuação do PCC no sistema financeiro. Durante as fiscalizações, foram identificadas 21 empresas ligadas a 98 estabelecimentos, todos em nome de alvos da operação. Essas empresas movimentaram cerca de R$ 1 bilhão no período investigado, mas declararam apenas R$ 550 milhões em notas fiscais, recolhendo um valor irrisório em tributos.
Com os recursos ilícitos, o grupo criminoso adquiriu uma série de bens de alto valor, incluindo:
- Um iate de 23 metros;
- Um helicóptero modelo Augusta A109E;
- Um carro de luxo Lamborghini Urus;
- Diversos terrenos avaliados em mais de R$ 20 milhões.
Segundo a superintendente da Receita Federal em São Paulo, Márcia Meng, o modus operandi da facção evoluiu. Eles agora utilizam empresas formais em atividades legítimas para misturar dinheiro ilegal com a receita do negócio, dificultando a fiscalização.
O Líder do Esquema e Outras Fraudes
O empresário Flávio S. S., conhecido como “Flavinho”, é apontado como o chefe do esquema de venda de combustíveis adulterados. Ele é suspeito de lavar dinheiro do crime organizado há anos, utilizando postos de combustíveis. As investigações identificaram 267 postos ativos que movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões, mas recolheram apenas 0,1% em tributos federais.
Além disso, a Receita Federal detectou um padrão de retificação nas declarações de Imposto de Renda dos envolvidos. Eles corrigiam declarações antigas para incluir altos valores em bens, sem a devida comprovação de rendimentos. Esse artifício permitiu que a família do principal alvo aumentasse seu patrimônio em cerca de R$ 120 milhões.
A Operação Spare, que cumpre 25 mandados de busca e apreensão em diversas cidades de São Paulo, mobilizou 64 servidores da Receita Federal, 28 do MP-SP e 100 policiais militares. O trabalho conjunto visa desarticular a complexa rede de lavagem de dinheiro e reforça o compromisso do Estado em combater o crime organizado.