Uma megaoperação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo desarticulou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação, chamada de Operação Carbono Oculto, revelou que o grupo criminoso usava empresas do setor de combustíveis, fundos de investimento e até mesmo uma fintech para ocultar recursos de origem ilícita.
Ao todo, 350 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, incluindo em 15 edifícios da Faria Lima, um dos principais centros financeiros do país. As ações, que também contam com a participação da Receita Federal, são uma junção das operações Carbono Oculto, Quasar e Tank.
O esquema bilionário do PCC
A investigação mostrou que o PCC atuava na importação irregular de produtos químicos para adulterar combustíveis e, com isso, gerava altos lucros na cadeia produtiva. Centenas de empresas de fachada eram usadas para sonegação fiscal e movimentação de recursos.
A polícia destaca que o uso de fintechs, em vez de bancos tradicionais, dificultava o rastreamento do dinheiro. Uma dessas instituições financeiras, operando como um “banco paralelo” da facção, movimentou sozinha cerca de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024. Parte desse valor foi usado para adquirir usinas de álcool e fortalecer a organização criminosa. Os lucros e valores lavados eram aplicados em, ao menos, 40 fundos de investimento, com várias camadas de ocultação para esconder os verdadeiros beneficiários.
As empresas investigadas
As principais empresas alvo da operação são o Grupo Aster/Copape, o BK Bank e o fundo de investimento Reag.
Grupo Aster/Copape
As empresas são responsáveis pela formulação e distribuição de combustíveis, além de uma rede de postos de gasolina. Elas já haviam sido investigadas pelo Ministério Público de São Paulo por fraudes fiscais, que resultaram em multas bilionárias de mais de R$ 2 bilhões. As empresas pertencem a Mohamad Hussein Mourad e Renato Steinle Camargo.
BK Bank
Fundada em 2015, a fintech brasileira é especializada em soluções digitais. Oferece serviços bancários como transferências, pagamentos e gestão de cartões pré-pagos. A investigação aponta que a empresa foi utilizada para a movimentação bilionária de dinheiro não rastreável.
Reag
Uma das maiores gestoras de patrimônio do país, a Reag, com R$ 299 bilhões sob gestão, foi utilizada para a compra de empresas, usinas e a blindagem do patrimônio dos criminosos. A empresa confirmou que suas sedes foram alvo de busca e apreensão e afirmou que está colaborando com as autoridades. A Ciabrasf, empresa que atua como “spin off” da Reag, também foi alvo de busca e apreensão.
A Operação Tank
A Operação Tank, deflagrada pela Receita e pela Polícia Federal, faz parte da ação e investiga uma rede de postos e distribuidoras de combustíveis usada para a lavagem de dinheiro do crime organizado. A investigação começou em 2023, após a ostentação de bens de luxo por um ex-condenado por tráfico internacional em Pinhais (PR).
A Receita Federal estima que mais de R$ 20 bilhões foram movimentados em transações bancárias. Isso resultou em cerca de R$ 4 bilhões em tributos federais não arrecadados. A investigação também mostrou que uma das distribuidoras envolvidas declarou um faturamento de mais de R$ 7 bilhões, mas foi criada com recursos ilícitos.