Manaus – A guerra entre as facções criminosas Família do Norte (FDN) e Comando Vermelho (CV) fez o número de homicídios dolosos – com a intenção de matar – disparar na região central de Manaus no primeiro trimestre deste ano. Ao todo, cinco pessoas foram assassinadas a tiros na Praça da Saudade. Com exclusividade, testemunhas revelaram ao Em Tempo que vendedores ambulantes de nacionalidade venezuelana estão sendo obrigados por traficantes a vender entorpecentes no logradouro público.
Um das fontes contou à reportagem que a punição para quem não seguir as ordens dos criminosos é a morte. Uma delas, inclusive, teria servido de exemplo aos demais venezuelanos que não aceitam a imposição do mundo do crime.
"Esses venezuelanos vêm do seu país de origem sem qualquer dinheiro no bolso e o principal meio de ganhar a vida é vender as coisas na rua. Eles vendem água, bombons, bebida e alimentos em geral. Só que os que atuam nessa região da praça estão no meio do fogo cruzado das facções, eles são obrigados a comercializar as drogas junto com os demais produtos. Todo mundo sabe disso aqui!", contou a fonte.
Uma venezuelana de 47 anos, que reside na capital há seis meses e trabalha como vendedora de água e bombons na região da praça, revela que por conta dos crimes registrado no período noturno, ela decidiu trabalhar apenas durante o dia.
"Eu tenho medo de trabalhar no entorno da praça. Tem muita gente que mexe com coisas erradas e quem trabalha honestamente pode morrer de graça", disse.
Outra pessoa, de 45 anos, também de nacionalidade venezuelana, explicou que também trabalha na praça, mas que sente muito medo por falta de segurança. Segundo ela, não há policiamento no local durante a noite.
"A polícia só aparece quando tem morte. As abordagens policiais são muito difíceis por aqui. Infelizmente, há pessoas que insistem em vender drogas aqui", revelou.
Outro venezuelano que preferiu não se identificar, declarou que alguns venezuelanos foram obrigados a ser soldados de traficantes para poder trabalhar na área.
"Alguns venezuelanos associam a venda de bombons e água com as drogas. Eles foram obrigados a deixar os carrinhos de venda sem iluminação para poder vender os entorpecentes sem chamar a atenção da polícia", disse.
A disputa entre as facções criminosas pelo comércio do tráfico de drogas e poder dentro das unidades prisionais é conhecida da cúpula da segurança pública do Amazonas e apontada como principal motivo das mortes no Centro de Manaus.
Mortes
Na última terça-feira (30), Michael Bastos Silva, de 23 anos, e Leandro Mike dos Santos Gameiro, de 14 anos, foram executados com três tiros cada. As vítimas estavam com trouxinhas de drogas no bolso e supostamente estariam realizando venda dos entorpecentes no entorno da praça. Eles foram atingidos com tiros na cabeça e nas costas.
Outro caso mais recente foi o assassinato do venezuelano Juan Antônio Colina Silva, de 34 anos, baleado com um tiro no rosto. Segundo informações apuradas pela reportagem do Portal Em Tempo, a vítima residia em Manaus há seis meses. O venezuelano vendia ao mesmo tempo bombons e drogas no entorno do Centro Histórico da capital.
Após o crime, Rodrigo Lemos Bacury, de 21 anos, foi preso por policiais militares da 24ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), durante uma troca de tiros. Ele foi abandonado por dois comparsas que fugiram em um carro preto.
Na ocasião, Rodrigo ainda foi agredido pelos populares antes de ser preso. Com ele, a polícia encontrou uma pistola calibre 380 milímetros, com dois carregadores, 25 munições intactas e uma trouxinha de maconha, além de R$ 542 em dinheiro.
Em depoimento na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Rodrigo confessou que o alvo era um traficante rival, identificado como "Mosquito", que integra a facção criminosa CV. Como o rival não foi encontrado, ele e os comparsas decidiram matar Juan, apontado como soldado do traficante.
No interrogatório, Rodrigo afirmou que o comparsa conhecido como "Mad Max" foi quem atirou em Juan, porém não confessou quem foi o mandante.
Além do bairro Centro, as execuções também refletiram nos bairros Aparecida e Presidente Vargas, na Zona Sul. Segundo levantamentos do serviço de inteligência da Polícia Civil, as facções criminosas estão brigando pelo comércio do tráfico de drogas na região central da capital.
Briga por poder
Conforme informações da polícia, a área central está sob o domínio do traficante "Marcelinho", da FDN, e que segue sozinho na briga pelo espaço contra os traficantes Kaio Wuellington Cardoso dos Santos, o "Mano Kaio", e Alexsandro Oliveira dos Santos, conhecido como "Sandrinho", ambos ligados ao CV. Eles estão tentando tomar a região.
Ao Portal Em Tempo, o delegado Paulo Martins, titular da DEHS, confirmou a prisão de Williams Rebelo da Silva, de 25 anos, envolvido na morte de Michael Bastos Silva, e Leandro Mike dos Santos Gameiro. A dupla foi executada na noite de terça-feira (30) na Praça da Saudade.
"Ainda não sabemos qual a participação do Williams nos crimes da Praça da Saudade. Vamos interrogá-lo e saber quem está por trás desses homicídios. Mas posso adiantar que é uma briga entre membros de facções criminosas CV e FDN", explicou Paulo Martins.
Williams, que faz parte do CV, foi preso no momento em que conduzia um carro Celta, de cor preta, de placa JXL-6646. Com ele, os policiais militares da 24ª Cicom encontraram uma pistola calibre 380 milímetros, com sete munições intactas e uma porção de 330 gramas de cocaína.
Em ato contínuo de abordagem, Jandersson Praia Ferreira e Anne Kalline Rodrigues do Nascimento foram presos em um carro Fiat/Uno, de cor vermelha, de placa PHB-6125. Com o casal, a polícia apreendeu 500 gramas de oxi, 18 porções de oxi e 88 pinos de cocaína. Williams e os dois pretendiam matar outros rivais na praça.
Outro homem identificado como Carlos César Bindá Trajano, foi preso em uma casa, na Travessa São Thomé, no bairro Santo Antônio, na Zona Oeste. Com ele, os policiais militares apreenderam 577 pinos de drogas, quatro celulares e uma balança de precisão. O quarteto foi apresentado no 1° Distrito Integrado de Polícia (DIP).