Por décadas, o cinema brasileiro falhou em dar visibilidade a vozes femininas negras. Diante de dificuldades de financiamento e ausência em festivais, as cineastas Edileuza Penha de Souza e Camila de Moraes estabeleceram pilares para a transformação do setor.
Edileuza Penha de Souza, professora e pesquisadora, idealizou em 2014 a Mostra Adelia Sampaio. O objetivo foi reparar o apagamento de Adelia Sampaio, considerada a primeira cineasta negra do Brasil.
O movimento surgiu da angústia de Edileuza em seu doutorado, ao perceber a ausência de protagonistas e diretoras negras no cinema nacional.
Criação de Circuitos e Distribuição
A jornalista e cineasta Camila de Moraes enfrentou a lógica tradicional da indústria ao dirigir filmes como O Caso do Homem Errado (2017). Sem apoio de editais e com portas fechadas em festivais, ela recorreu ao financiamento coletivo.
Para garantir a circulação de sua obra, Camila criou a Borboletas Filmes, uma distribuidora negra e independente. A produtora se tornou essencial para colocar filmes de realizadores negros em salas de cinema.
A cineasta defende que a falta de recursos para distribuição impede que as obras cheguem ao público. Ela criou o Circuito Filmes que Voam, equipando espaços culturais de Salvador para exibição de filmes nacionais.
Desigualdades Estruturais
Edileuza Penha de Souza reforça que o setor ainda é marcado por desigualdades. Ela lembra que, até 2016, a Ancine não havia financiado nenhum longa dirigido por uma mulher negra.
Uma pesquisa da Ancine (2016) indicou que apenas 2% dos diretores de filmes lançados comercialmente no país eram negros. Em 2019, o GEMAA/Uerj revelou que, entre 142 longas brasileiros, apenas um havia sido dirigido por uma mulher negra.
Ambas as cineastas defendem que a luta no audiovisual é inseparável da luta por direitos básicos e por reparação social.
Camila de Moraes resume a atitude: “Se o caminho convencional não nos acolhe, criamos outro caminho. Mas precisamos de estrutura pública para manter esse caminho aberto.”
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