A violência contra a mulher em deslocamentos noturnos é alarmante no Brasil. De acordo com um novo relatório do Instituto Patrícia Galvão, feito em parceria com a Locomotiva e com o apoio da Uber, nove em cada dez brasileiras já sofreram algum tipo de violência ao sair à noite para atividades de lazer. A maior parte dos episódios é de cunho sexual, incluindo cantadas inconvenientes, importunação e assédio sexual.
Para um índice de pelo menos 10% das mulheres, esses percursos para lazer resultaram em estupro. Este percentual dobra quando se trata de mulheres pertencentes à comunidade LGBTQIA+. O relatório, baseado em formulários preenchidos por 1,2 mil entrevistadas com idade entre 18 e 59 anos, destaca que o medo de quase a totalidade das brasileiras (98%) de vivenciar algo semelhante é justificado pela gravidade das agressões.
Perfil das Vítimas e Tipos de Agressão
A pesquisa revela que a violência é potencializada pela soma de fatores como perfil étnico-racial ou orientação sexual. As mulheres pretas (negras de pele retinta) são mais vitimadas em diversos contextos. A proporção de pretas foi sempre maior quando as entrevistadas relataram casos de importunação e assédio sexuais, agressões físicas, estupros e racismo.
Além das violências de cunho sexual, o levantamento aponta que:
34% das entrevistadas foram vítimas de assalto, furto e sequestro relâmpago.
24% sofreram discriminação ou preconceito por alguma característica que não a étnico-racial.
Entre mulheres LGBTQIA+, a taxa de violação de direitos por discriminação atinge 48%.
As formas mais comuns de violência percebida incluem olhares insistentes e flertes indesejados (72%), com a taxa subindo para 78% entre as jovens de 18 a 34 anos.
Maior Vulnerabilidade no Transporte
O estudo aponta que as mulheres ficam mais suscetíveis à violência quando se deslocam a pé (73%) ou usando ônibus (53%). Embora a probabilidade seja menor, os riscos persistem em outros meios, como carro particular (18%) e carro de aplicativo (18%), metrô (16%), trem (13%) e táxi (9%). A segurança é o principal critério para a escolha do meio de transporte (58%).
As experiências de insegurança fazem com que 63% das mulheres que mantêm o hábito de lazer noturno já tenham desistido de sair de casa em algum momento. Além disso, 42% presenciaram atos de violência contra outra mulher, sendo que 54% prestaram auxílio.
Para tentar reduzir o risco, as mulheres adotam estratégias como:
Avisar a alguém de confiança sobre o destino e hora de retorno (91%).
Evitar transitar por locais desertos ou escuros (89%).
Procurar companhia em trajetos (89%).
Evitar usar certos tipos de roupas ou acessórios (78%).
Apesar da alta taxa de vitimização, apenas 17% das vítimas recorreram à polícia e uma minoria buscou a Central de Atendimento à Mulher.











































