A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, tem a maior participação de povos originários da história. Graças ao programa de formação chamado Kuntari Katu, jovens indígenas estão atuando diretamente nas complexas negociações diplomáticas internacionais. O termo, nas línguas nheengatu e tupi, significa “aquele que fala bem”.
O curso Kuntari Katu foi desenvolvido em parceria pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Instituto Rio Branco. O programa durou mais de um ano e preparou 30 jovens de todas as regiões do país para atuar no processo de negociação da COP30, que se encerra nesta sexta-feira (21).
Voz Própria nos Debates de Clima
Wasadi Xakriabá, de 28 anos, de Minas Gerais, faz parte da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, mecanismo oficial da ONU para o tema. Ele enfatiza a necessidade da presença indígena nas negociações.
“Tudo o que está sendo discutido na COP nos impacta direta e indiretamente. O financiamento nos afeta, porque apenas 1% desses recursos chega em nossos territórios”, afirma Wasadi. Segundo ele, os indígenas precisam ser seus próprios porta-vozes, apresentando sua realidade nos espaços de decisão.
O curso treinou os participantes em temas essenciais, como financiamento climático, mercado de carbono, gênero, mitigação e a integração entre as agendas de biodiversidade e clima. As aulas foram ministradas por diplomatas experientes e especialistas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Conceitos Indígenas e Desafios de Idioma
Eliel Camlem, de 24 anos, do povo Xokleng Laklãnõ (Santa Catarina), acompanhou as discussões sobre as metas de adaptação climática. Ele destacou que a prática da negociação é diferente da teoria da universidade. “O que eu posso destacar sobre estar e aprender nesses espaços… é a força que os indígenas possuem”, aponta o estudante de relações internacionais.
Um dos principais desafios na mesa de negociação, segundo os jovens, é a disputa por conceitos que aparecerão nos documentos finais. Jean Truká, de 24 anos, do povo Truká (Pernambuco), relatou embates para inserir a demarcação territorial.
“Quando a gente pauta demarcação, os outros países não aceitam porque não é um conceito entendido da mesma forma no resto do mundo”, exemplifica Jean, formado em gestão ambiental. Eliel acrescenta que o conceito de povos indígenas também é interpretado de forma diferente em outros países, como a China.
O idioma também é um obstáculo. Wasadi Xakriabá observou que as salas de reunião, muitas vezes, oferecem apenas inglês e espanhol, o que pode dificultar a participação dos anciãos e caciques.
Objetivo do Kuntari Katu
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, idealizadora do formato, explicou que o curso foi pensado para garantir a capacidade de intervenção dos indígenas nos debates negociais.
“Kuntari Katu significa aquele que fala bem. É isso o que esses jovens estão fazendo: falando sobre suas realidades e a importância dos territórios indígenas para a mitigação da emergência climática dentro dos espaços decisórios”, destacou a ministra.







































