A presença de facções criminosas na Amazônia Legal aumentou 32% em apenas um ano, passando de 260 municípios em 2024 para 344 cidades em 2025. O dado é da 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em um evento realizado na COP30, em Belém, no Pará.
A pesquisa alerta para a crescente intersecção entre o crime organizado e os crimes ambientais. A diretora-executiva do FBSP, Samira Bueno, explicou que grupos majoritariamente ligados ao narcotráfico, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), veem na Amazônia novas formas de obter e lavar dinheiro.
Um exemplo dessa atuação foi revelado em mensagens do CV, obtidas pela Agência Brasil, nas quais a facção impõe o cadastro e o pagamento de mensalidade para todos os envolvidos no garimpo ilegal em Alta Floresta, no Mato Grosso. O texto da facção impõe consequências severas, como roubo de equipamentos e até a morte, para quem não cumprir as regras.
A presença do CV em territórios de mineração, como a Terra Indígena Sararé, no Mato Grosso, demonstra a adoção de uma “lógica de controle territorial armado” similar à vista em centros urbanos.
Organização e Expansão das Facções na Amazônia
O estudo identificou 17 facções criminosas ativas na Amazônia Legal, que abrange nove estados. Além das grandes, como CV e PCC, há grupos regionais como Amigos do Estado (ADE) e Bonde dos 40 (B40), e organizações estrangeiras, como a venezuelana Tren de Aragua e a colombiana Estado Maior Central (EMC).
Comando Vermelho (CV): Presente em 286 cidades, domina 202 municípios. A facção controla as rotas fluviais, especialmente no eixo do Rio Solimões, e opera em garimpos.
Primeiro Comando da Capital (PCC): Atua em 90 cidades, com foco na internacionalização dos mercados. Intensifica o uso de rotas aéreas clandestinas (em garimpos e unidades de conservação) e a rota oceânica via Suriname.
O avanço dessas organizações eleva a violência na região. Em 2024, a Amazônia Legal registrou 8.047 mortes violentas intencionais, uma taxa de 27,3 por 100 mil habitantes, 31% superior à média nacional. O Amapá foi o estado mais violento do país (45,1 por 100 mil).
Necessidade de Políticas Adaptadas
O estudo também destaca a letalidade contra mulheres. Foram 586 mulheres assassinadas em 2024, taxa 21,8% superior à média nacional. O Mato Grosso é o estado mais perigoso para mulheres na região (5,3 por 100 mil).
Samira Bueno defende que o Estado brasileiro precisa urgentemente buscar soluções para essa intersecção entre o crime e o meio ambiente. Ela ressaltou que as soluções climáticas e de segurança exigem o foco na cidadania e na segurança dos territórios, e é crucial adaptar os modelos de enfrentamento à violência doméstica às realidades locais, especialmente em aldeias indígenas e municípios de fronteira.











































