O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) lançou uma campanha global para arrecadar fundos e prover assistência essencial a refugiados e deslocados internos. O objetivo é prepará-los para um inverno rigoroso que se aproxima em diversas regiões do mundo.
A urgência do apelo se deve a uma redução acentuada na ajuda humanitária. O Acnur alerta que milhões de pessoas já estão sentindo a queda de temperatura e enfrentarão o frio com proteção insuficiente, devido aos cortes no financiamento realizados por vários governos em 2025.
Assistência reduzida para famílias vulneráveis
Dominique Hyde, diretora de Relações Externas do Acnur, destacou a gravidade da situação. “Os orçamentos humanitários estão no limite e o apoio oferecido neste inverno será muito menor”, afirmou ela, após retornar recentemente da Síria e da Jordânia.
Muitas famílias terão de suportar temperaturas negativas sem itens básicos, como um teto adequado, isolamento térmico, aquecimento, cobertores, roupa quente ou medicamentos. O Acnur pretende angariar pelo menos US$ 35 milhões para isolar e reparar casas, além de fornecer cobertores e fundos para a compra de medicamentos e alimentos quentes a crianças e idosos.
A agência ressalta que este é um dos momentos mais importantes de angariação de fundos e pede a mobilização de doadores privados para “salvar vidas no momento em que as temperaturas descem consideravelmente”.
Crises se intensificam no Oriente Médio e Afeganistão
O Acnur aponta três locais críticos que mais preocupam as equipes de ajuda humanitária:
Oriente Médio: A situação segue frágil. Mais de 1 milhão de sírios retornaram ao país após a queda do regime, mas encontraram casas destruídas pela guerra. Estima-se que os cortes no financiamento deixarão 750 mil pessoas sem apoio vital, como colchões, lâmpadas solares e roupa de inverno.
Afeganistão: O país enfrenta temperaturas negativas e uma grave crise econômica. Nove em cada dez afegãos vivem na pobreza. Mais de 2,2 milhões de afegãos retornaram do Paquistão e do Irã neste ano em condições difíceis, sem perspectivas. A situação é agravada por tremores devastadores recentes.
Ucrânia: Este será o quarto inverno de guerra em larga escala para milhões de deslocados internos. Os ataques intensos destroem infraestruturas de gás, eletricidade e água, em um contexto onde as temperaturas podem chegar a -20°C.
Ao defender que “as famílias deslocadas não deviam ter de enfrentar o inverno sozinhas”, Dominique Hyde apelou por mais recursos para tornar a vida dessas pessoas “um pouco mais suportável”.
O impacto dos cortes de ajuda humanitária
Os cortes no financiamento humanitário são sentidos desde março. A redução ocorreu após a decisão do governo norte-americano de cortar o investimento na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), com alegações de mau uso de recursos. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, informou que mais de 80% dos programas da Usaid já foram cancelados.
De acordo com um estudo da revista científica The Lancet, essa decisão pode resultar em mais de 14 milhões de mortes prematuras até 2030, sendo 4,5 milhões delas crianças menores de 5 anos. Para os países mais pobres, as consequências dessa redução na ajuda são comparáveis a uma grande pandemia ou conflito armado.









































