A população negra brasileira demonstra ter mais confiança no empresariado do que no poder público, segundo o levantamento O Consumo Invisível da Maioria: Percepções, Gatilhos e Barreiras de Consumo da População Negra no Brasil. A pesquisa, apresentada nesta segunda-feira (10 de novembro de 2025) no Fórum Brasil Diverso, em São Paulo, ouviu mil pessoas negras de todas as regiões.
Os dados mostram que a confiança no empresariado atinge 85,3%, enquanto a confiança nos governantes é de 68,7%. O estudo foi realizado pelos institutos Akatu, DataRaça e Market Analysis, considerando que este grupo populacional movimenta cerca de R$ 1,9 trilhão anualmente.
Sentimento de Impotência e Desconfiança Política
O estudo revelou um sentimento de impotência da população negra diante de várias consequências do racismo, como:
Violência policial (22%).
Falta de oportunidades de trabalho (20,7%).
Racismo religioso contra vertentes afro-brasileiras (19%).
Apagamento em veículos de comunicação (17,6%).
Maurício Pestana, presidente do DataRaça, atribui a maior confiança nas empresas à polarização política e à percepção de que as empresas têm “regras claras de missão, de não à discriminação”, enquanto a lei no governo é percebida como de “cumprimento variável”.
Credibilidade e Desconfiança
As organizações não governamentais (31%) e as instituições religiosas (30,7%) são as que mais têm credibilidade, registrando os menores índices de desconfiança (8% e 7,6%, respectivamente).
Em relação aos governos, 12,9% dos entrevistados afirmaram depositar muita confiança, contra 24% que expressaram falta de confiança. As pessoas na faixa etária de 35 a 44 anos foram identificadas como as mais céticas, com 36,7% desconfiando das intenções dos governos.
Os grupos que mais confiam nas mensagens governamentais são as mulheres (73,2%), os jovens (75,7%) e os idosos (76,9%).
Racismo no Consumo e Questões Sociais
No recorte de classes, a Classe A é a que mais dá crédito a empresas (90%) e governos (78,9%), enquanto a Classe B figura como a mais crítica, com 17,3% de desconfiança nas empresas e 37,7% nos governos.
Em relação à discriminação no consumo e serviços, um em cada três clientes negros (34,8%) foi vítima de discriminação ao contratar um serviço ou comprar um produto no último ano. Em sete de cada dez casos, a discriminação foi manifestada por meio de gestos sutis, como olhares que transmitiam cisma ou julgamento.
Os locais onde mais houve atos racistas foram:
Lojas de roupas, calçados, perfumaria e acessórios (24,5%).
Shoppings (17%).
Supermercados (16,8%).
As questões sociais consideradas de maior impacto na vida pessoal dos entrevistados são a violência e a criminalidade (78,9%), a corrupção (78,6%) e a violência policial contra a população negra (70,1%).









































