O Brasil pode antecipar em uma década sua meta de neutralidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE), passando de 2050 para 2040. Esta é a conclusão do estudo Brazil Net-Zero by 2040, liderado pelo Instituto Amazônia 4.0, e divulgado nesta quarta-feira (5) na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.
O estudo simula cenários de transição por meio do modelo de análise integrada Brazilian Land Use and Energy System Model. Ele aponta dois caminhos principais que possibilitam a antecipação.
Dois cenários para a neutralidade em 2040
O trabalho propõe dois cenários que envolvem a adaptação de diferentes setores da economia:
AFOLU-2040 (Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra): Focado em soluções baseadas no uso da terra, como a redução do desmatamento e a restauração florestal. Este cenário exigiria o desmatamento ilegal zerado até 2030 e a restauração de 18,2 milhões de hectares até 2040.
Energia-2040: Voltado para a transformação do setor energético, com expansão de energias renováveis e biocombustíveis, além da redução do uso de petróleo e a adoção de tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS).
Em entrevista à Agência Brasil, a professora Mercedes Bustamante, coautora do estudo e vice-presidente da ABC, afirmou que o cenário AFOLU apresenta uma vantagem para o Brasil. Ele envolve ações que o país já implementa, como o controle do desmatamento e a restauração florestal, que precisariam ser aceleradas.
Segundo Mercedes Bustamante, o ganho com o sequestro de carbono dessas atividades permitiria uma transição energética mais gradual no país.
“Se você trabalha na solução do desmatamento, restauração florestal em larga escala, isso também implica a conservação da biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos. E, ao mesmo tempo, nos permite fazer a adequação que vai ser necessária para a transição energética”, disse Mercedes.
O estudo indica que o cenário AFOLU-2040 é o que apresenta maior potencial para o país atingir emissões líquidas zero em 2040.
Investimento e transformação
O cenário AFOLU demandaria um acréscimo modesto de apenas 1% em termos de investimento, se comparado à meta atual de 2050. Este acréscimo é considerado baixo pelos autores diante dos cobenefícios sociais e ecológicos gerados.
Já o cenário Energia-2040 exigiria cerca de 20% a mais de investimento. O custo mais alto se deve à necessidade de novas infraestruturas, inovação tecnológica e à substituição acelerada dos combustíveis fósseis.
A transformação exigida, ressaltou Mercedes Bustamante, é uma transição tecnológica. Os autores alertam que quanto mais cedo o país iniciar os ajustes necessários na matriz econômica, mais fácil e menos custoso será o processo.
O estudo tem como autores os especialistas Carlos Afonso Nobre, Roberto Shaeffer, Mercedes Bustamante, Eduardo Assad e Nathália Nascimento, vinculados a importantes instituições de pesquisa do país.




































