A operação policial realizada nesta terça-feira (28) contra o tráfico de drogas nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, foi marcada por violência extrema. Moradores, parentes das vítimas e a Associação de Moradores do Parque Proletário da Penha classificaram a ação como carnificina, denunciando execuções e torturas.
A contagem oficial do governo do estado registra 119 vítimas, incluindo 115 civis e quatro policiais. A ação é considerada a mais letal da história da capital fluminense.
Testemunhos de violência e execuções
A estratégia policial envolveu invadir as comunidades e montar um cerco com agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), bloqueando a fuga pela mata. Dezenas de corpos resgatados desta área apresentavam sinais de tortura e execução. Eles foram dispostos na manhã de hoje (29) em frente à associação comunitária, na Praça São Lucas, na Vila Cruzeiro.
Um morador de 25 anos, que não quis se identificar, relatou ter entrado na mata às 3h da manhã para tentar prestar socorro. Ele contou que a polícia tentou impedir a ajuda, disparando tiros e bombas.
“A gente encontrou muitos mortos sem camisa, fuzilados, com mãos e dedos decepados e também decapitados,” revelou a testemunha. Ele mencionou ter visto a cabeça de uma vítima, identificada como Ravel, entre os galhos de uma árvore.
Testemunhas e áudios de celulares encontrados contradizem a versão do governo de que as vítimas morreram em confronto. Segundo os moradores, muitas vítimas se renderam antes de serem executadas.
Tortura e corpos mutilados
Erivelton Vidal Correa, presidente da Associação Comunitária de Parque Proletário, confirmou os depoimentos. Ele relatou que as famílias tentaram subir a mata desde a noite de terça-feira (28). A entidade retirou um total de 80 corpos da área conhecida como Mata da Pedreira.
O presidente da associação confirmou os sinais de tortura e execuções. “Muitos corpos deformados, com perfurações no rosto, perfurações de faca, cortes de digitais, dois corpos decapitados, a maioria dos corpos não tinha face,” detalhou Correa. Entre as vítimas, estariam dois irmãos de Manaus que, segundo ele, foram encontrados abraçados, mortos com um tiro no rosto e com as digitais cortadas.
Correa classificou a ação como “genocídio” e “uma arbitrariedade muito grande”. Ele questionou o motivo de a polícia ter deixado as vítimas no local, acreditando ser uma opção para não gerar provas e evitar a comprovação das execuções.
Posição do governo
A Operação Contenção contou com 2,5 mil policiais, cumprindo mandados de busca e prisão. O governo do estado considerou a operação “um sucesso” e afirmou que os mortos reagiram com violência.
O secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, disse que os policiais seguiram as normas vigentes e negou as execuções. Ele afirmou que inquéritos foram instalados, mas que os policiais são as vítimas e os criminosos, os autores dos delitos.
 
         
         
         
        





































