Moradores dos Complexos da Penha e do Alemão, e de outras favelas do Rio de Janeiro, realizaram um protesto na tarde desta sexta-feira, 1º de Novembro. A manifestação é uma resposta à Operação Contenção, que resultou na morte de 121 pessoas na última terça-feira. Milhares de pessoas se reuniram em um campo de futebol, na Vila Cruzeiro, de onde partiram em caminhada até a Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade.
O ato contou com a presença de mães que perderam filhos em outras ações policiais. Liliane Santos Rodrigues, que perdeu o filho de 17 anos há seis meses, expressou solidariedade. “Eu estou sentindo a dor dessas mães. Foi um baque muito grande ver que um rapaz foi morto no mesmo lugar em que o meu filho morreu. Hoje eu estou aqui para dar força para essas mães”, disse.
Relatos de trauma e críticas ao governo
Os relatos dos participantes trouxeram à tona o trauma vivido nas comunidades. Liliane descreveu o desespero da filha mais nova durante o tiroteio da Operação Contenção: “Parecia que os tiros estavam dentro da nossa casa”.
Nádia Santos, que perdeu dois filhos em ações policiais diferentes, criticou duramente o governo. “Esse governador é o ‘Exterminador do Futuro’, porque ele extermina o futuro e os sonhos dos jovens”, afirmou. Ela defendeu que o governo deveria oferecer educação, saneamento básico e emprego. “Nenhuma mãe cria seu filho pra ver ele tombado sem cabeça. Eu ainda sangro pela morte dos meus filhos, mas hoje eu tô sangrando ainda mais pelas mortes desses 121 filhos”.
Adriana Santana de Araujo, mãe de um dos mortos na operação do Jacarezinho em 2021, também participou. Ela lembrou o sofrimento e as consequências da dor: “A dor não passa nunca. A gente acostuma a viver com ela. Enterram os nossos filhos mortos e enterram nós, as mães, vivas”.
A letalidade da Operação e o balanço oficial
A Operação Contenção, que mobilizou 2,5 mil agentes para cumprir mandados contra o Comando Vermelho, é a maior em 15 anos no estado e a mais letal da história. O número oficial de mortos é de 121 pessoas, sendo quatro policiais e 117 civis.
O governo do estado informou que 99 civis foram identificados e 89 tiveram os corpos liberados pelo IML. Dentre os identificados, 78 tinham histórico criminal e 42 possuíam mandado de prisão pendente.
Entidades de direitos humanos e organizações da sociedade civil denunciam a Operação Contenção como “massacre” e “chacina”. Familiares relatam ter encontrado dezenas de corpos em uma área de mata com sinais de tortura e mutilações.
A dirigente sindical Raimunda de Jesus, presente no protesto, resumiu o sentimento de discriminação: “Nós, que moramos na periferia, somos discriminados. Mas o Estado não pode nos ver como inimigos. O Estado tem que tratar e cuidar do seu povo, de toda a sua população”.









































