A Operação Contenção, realizada nos complexos da Penha e do Alemão nesta terça-feira (28), transformou o dia em um período de terror para os mais de 150 mil habitantes locais, com horas de tiros e explosões. O impacto se estendeu por toda a capital fluminense, interrompendo o trânsito nas principais vias e provocando o fechamento de escolas e postos de saúde.
A ação deixou pelo menos 64 pessoas mortas, incluindo quatro policiais, e é considerada a mais letal da história do estado. O governo estadual contabilizou 81 prisões e a apreensão de 93 fuzis, pistolas e granadas.
Para especialistas, contudo, a operação não atingiu o objetivo de conter o crime organizado. O professor José Cláudio Souza Alves, do Departamento de Ciências Sociais da UFRRJ, argumenta que o confronto armado apenas intensifica o sofrimento da população e afeta a economia.
“Essa lógica de medir força armada bélica com estruturas do tráfico sempre resultaram em mortes cada vez maiores, em sofrimento cada vez mais intenso, perda de acesso a serviços públicos, perda de mobilidade urbana. O problema nunca foi sequer arranhado”, afirma Alves. Ele classifica a ação como uma “imensa e gigantesca cortina de fumaça”.
Especialistas defendem inteligência e criticam erros táticos
O professor Alves defende que combater o crime organizado exige outras estratégias, como investigar o fluxo de dinheiro, prender líderes e oferecer alternativas de qualidade de vida à população em situação de vulnerabilidade.
Em entrevista ao programa Revista Rio, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a professora Jacqueline Muniz, do Departamento de Segurança Pública da UFF, classificou a operação como amadora e uma “lambança político-operacional” do governador Cláudio Castro.
Segundo Muniz, a mobilização de 2,5 mil policiais exigiu a retirada de policiamento de milhões de pessoas na região metropolitana, configurando erros táticos. “Isso é muito sério porque põe em risco a vida dos policiais, põe em risco a vida da população, inviabiliza a circulação de pessoas, de mercadorias”, disse a professora.
Ação não combate crime organizado e repete recorde de letalidade
O objetivo da operação era cumprir mandados e conter a expansão territorial do Comando Vermelho, facção que, segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (Geni/UFF), foi a única a expandir seu controle no Grande Rio entre 2022 e 2023.
O Instituto Fogo Cruzado, que copilou informações sobre a Operação Contenção, reforça que ações como esta não combatem de fato o crime organizado. “É preciso atacar fluxos financeiros, investigar lavagem de dinheiro, fortalecer corregedorias independentes e combater a corrupção dentro do Estado”, afirmou a instituição em nota.
O Instituto reforça que esta é a maior chacina policial já registrada na história do estado do Rio de Janeiro, superando tragédias anteriores como as do Jacarezinho (2021) e da Vila Cruzeiro (2022).









































