Especialistas e ativistas defendem a participação ativa de comunidades vulneráveis nas decisões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro em Belém. O tema foi debatido no evento “COP30 e os Conflitos do Clima: REDD+, Mineração e as Lutas por Justiça Racial e de Gênero”, promovido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A principal preocupação é que as populações mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas, como as tradicionais e as que vivem em áreas de risco, estão sendo excluídas das mesas de negociação.
Os Impactos da Exclusão
Natália Nascimento, representante da Associação dos Moradores do Baixo Riozinho (Asmobri), no Amazonas, relatou o assédio que ribeirinhos sofrem devido ao mercado de carbono. Segundo ela, acordos de créditos de carbono são firmados com populações tradicionais sem que elas compreendam o que está em jogo, podendo levá-las a perder suas terras.
A empresa prometia mais do que poderia cumprir e impactaria o modo de vida da população. A comunidade aguarda decisão judicial sobre o caso, após acionar o Ministério Público Federal. Natália enfatizou que a maioria dos moradores que assinaram os contratos é leiga e não sabe o que de fato assinou.
Vulnerabilidade e Estatísticas Populacionais
Alexandra Montgomery, diretora de Programas da Anistia Internacional Brasil, destacou que os impactos climáticos atingem desproporcionalmente grupos populacionais específicos. Ela ressaltou que essas pessoas são “intencionalmente colocadas do lado de fora das mesas de negociação”.
Alexandra apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para ilustrar a dimensão da vulnerabilidade urbana no Brasil:
O Brasil possui 16,39 milhões de pessoas que moram em favelas e comunidades urbanas.
Este número representa 8,1% da população total brasileira.
Belém, sede da COP30, lidera a lista de grandes concentrações urbanas com a maior proporção de habitantes vivendo nessas condições, totalizando 57,1% da população.
A diretora argumenta que, quando se discute eventos climáticos extremos, como alagamentos e enchentes, uma parte significativa dessas pessoas, que moram em áreas de risco, não é escutada nas discussões sobre as cidades.
Belém: Cidade Espetáculo e Racismo Ambiental
Os debatedores expressaram preocupação com os impactos da realização da COP30 na própria cidade de Belém. Guilherme Carvalho, educador popular da ONG Fase – Solidariedade e Educação, afirmou que Belém está se transformando em uma “cidade espetáculo” calcada no racismo ambiental.
Ele citou que os resíduos e dejetos estão sendo direcionados para a periferia sem previsão de tratamento futuro. Além disso, a chegada do evento disparou o custo de vida na capital paraense:
Os aluguéis ficaram absurdos para a população local, além dos visitantes.
Houve uma gourmetização dos conhecimentos tradicionais, com cozinhas utilizando ingredientes locais, mas sem devolver o benefício para aqueles que dependem desse conhecimento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou a escolha de Belém como uma chance de “mostrar para o mundo o que é a Amazônia e o que é o Pará”. Ele afirmou que o governo federal está investindo quase R$ 6 bilhões na cidade e que as obras e melhorias realizadas para a COP30 permanecerão para a população local.