A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) divulgou um relatório na última sexta-feira (17 de outubro de 2025) alertando sobre a deterioração da liberdade de imprensa em países das Américas do Sul, Central e Norte. A entidade afirma que as ameaças e restrições ao jornalismo crítico e independente se intensificaram nos últimos meses, independentemente da ideologia dos governos.
O presidente da SIP, José Roberto Dutriz, destacou que o “desafio mais complexo” é a desinformação, que se propaga rapidamente em um ecossistema midiático saturado por redes sociais e inteligência artificial. Essa manipulação de informações “corrói a confiança social”.
Segundo a SIP, casos de violência, assédio judicial, pressão econômica e censura se intensificaram em diferentes graus. A situação preocupa em nações como Argentina, Colômbia, Canadá, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Nicarágua, Peru e Venezuela.
EUA são motivo de “alarme” para a SIP
A SIP manifestou especial preocupação com a situação nos Estados Unidos, historicamente considerados um farol para as liberdades democráticas. O presidente Donald Trump e seus seguidores têm investido “reiteradamente” contra veículos e jornalistas críticos.
José Roberto Dutriz citou episódios recentes, como a exigência do governo Trump para que jornalistas submetam suas reportagens à prévia aprovação do Departamento de Defesa. Em resposta a essa exigência, dezenas de jornalistas das principais agências devolveram suas credenciais de acesso ao Pentágono na última semana.
As autoridades também sinalizaram planos para limitar a estadia de jornalistas estrangeiros no país. Para Dutriz, a investida contra a imprensa e o uso de processos judiciais como ferramenta de assédio “revelaram uma tendência perigosa” que enfraquece o sistema democrático.
Assédio judicial preocupa no Brasil
No Brasil, o relatório da SIP, resumido por Martha Ramos, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, aponta a continuidade de um preocupante quadro de assédio judicial contra jornalistas nas primeiras instâncias do Poder Judiciário. Embora as decisões finais do Supremo Tribunal Federal (STF) geralmente sejam favoráveis à liberdade de imprensa, o problema persiste.
Martha Ramos citou o caso da jornalista Rosane de Oliveira e do jornal Zero Hora, condenados em primeira instância por divulgar os vencimentos de uma magistrada. A SIP também manifestou alarme com a persistência de violência contra jornalistas, muitas vezes praticada por detentores de cargos públicos, e com as “campanhas coordenadas” de intimidação e descrédito nas redes sociais.
Posição do Brasil no ranking global
Em maio deste ano, a ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgou seu ranking anual, apontando que as condições para o jornalismo são consideradas “ruins” em metade dos países do mundo.
No entanto, o Brasil apresentou uma melhora em seu índice de 2022 para o último período avaliado, saltando da 63ª para a 47ª posição. Já os Estados Unidos ficaram na 57ª posição, com a ONG citando a queda na confiança na mídia e a hostilidade do governo Trump contra jornalistas como fatores para a baixa.